Rimas para um coração vazio

Que não seja só ardor ou pudor
Que não seja só queimar esse amar
Há de ter calor e furor
Que não se venha a naufragar nesse mar

Que se faça loucura e não cura
Que não seja mito, acredito
Que mantenha a ternura, pura
Que não seja efêmero, areia, mas granito

Que te martirize,mas que num deslize
Te envolva pela boca, que seja afoita
Que cresça e enobreça, fertilize
Que se prenda e então viva, não solta

Pois que é duro perdê-la, aguente
Pois que vale a pena, se esquente
Posto que te queima, é quente
Caso o contrário desista, nem tente.

Sou todo ouvidos

Algo me diz que é melhor guardar segredo
Que vencer o medo é mais que necessário
Algo me diz que é absurdo
Nesse tão corrido mundo ser mais um retardatário
Algo me diz, mas digo não
Nem sempre vale a pena dar ouvidos à voz da razão

Algo me diz que eu deveria valorizar as cores
Algo me diz pra exaltar amores
Compor estrofes e versos,
Algo me diz pra viver intensamente a solidão
Mas não posso falar só com a voz da emoção

Como toda poesia, com toda paciência
Dançar no ritmo do coração, mas ao som da ciência
Esconder com vidro escuro buscando a transparência
Confundir a claridade com a clarividência

Unir o otimismo da vontade e o pessimismo da razão
Ouvir todas as vozes cantarem o mesmo refrão
E perceber que quase sempre
Damos ouvidos demais à voz da ilusão

Mariazinha

Deixa estar o céu e seu azul de par 

Com toda a sutileza da cor
Presentear o vento com o barulho
Mas não fui eu que fiz o mar
Eu não sou farol pra guiar
Deixa lá, olha quem vêm
Com toda a força de quem sabe o que quer
Não sabe que querer é a fraqueza da alma
E que ter é a certeza de perder
Mas quem sou eu pra culpar a perda 
Pela dor que ela causa?

Não seria mais fácil o mesmo céu azul
Anestesiar o vermelho do coração?
Pra que tanta cor se tudo é cinza sem ela?
Vê lá, é só a solidão me presenteando com carinho
E eu retribuo querendo um par

Deixe estar que a vida é só uma vela
E quem é que vai soprar
Se o nosso destino é maior
Quem é que vai viver de resto?
Melhor o acaso, que a sorte me convenha quando der
É só o que peço

A insensatez da carne

-Aqui estamos, ela pensou
Cansados de respirar esse ar que nos rodeia
Ocupados demais pra sentirmos de verdade
-Lá se vai a vida! Pensou ela
-Em um trem pra qualquer lugar ao sul
Enquanto a gente se debate numa agonia imensa
Tão desesperados pra sentirmos aluma coisa...Qualquer coisa
Que fodemos nossa vida no caminho em busca de sanar o vazio
-Aqui estamos, ele pensou
Ela não sabe que o vazio é um câncer terminal
-Melhor assim, ele pensou
Arrancando seu coração do peito, cavando um buraco com as unhas
Destroçando pele e nervos no caminho
-A culpa é do mundo, pensou ele
-A culpa é sua, pensou ela
-A culpa é de vocês disse o mundo
E nem o buraco no peito e o coração arrancado impediu que trepassem
Como se não houvesse amanhã
Pra eles não era o bastante, mas era o que tinham.

pequena descriçao do blog

a arte com palavras tem que ser intensa, mas ao mesmo tempo sádica, mentirosa mas sagaz, gosto de ter as palavras sobre controle e brincar com las, quanto menos tempo eu gastar compondo um poema, melhor pois soa espontâneo, isso é arte
isso é minha arte