Tratado da alma desnuda

Regresso a esta nobre tendência
De perder-me a cada descoberta.
Estive certo por um tempo de muitas coisas
Todas no entanto não resistiram ao crivo do tempo.
De mim, sobrou-me pouco.
Começo a desconfiar daquela imagem no espelho.
A serenidade me parece exagerada.
De certo confesso, pequei.
E o pecado é a marca dágua da trajetória humana.
Entretanto tento limpar-me a cada hora
E a cada minuto me sou menos gente.
Luto, bato, grito, "SEJA" grito ao eco da minha mente.
Não adianta, do corpo pra dentro sou esse inútil animal transparente.
Do corpo pra fora uma melodia muda
De hoje em diante sou pra minha sorte
Uma alma desnuda com medo da morte.

Cartas para um arquétipo.

E então você abre os olhos...
E é uma sensação estranha,, um certo tipo de alivio
Ver que tudo continua lá.
Os olhos ainda desfalecidos daqueles que choram
Os corações cortados ainda palpitantes
Salpicando de choro e sangue o chão dos desesperados
Por onde caminham nossos desencorajados pés.
O coração é uma corajosa antítese do tempo,
Por definição são eternos o passado e o futuro
Entretanto la estamos, guiados pela frágil voz pulsante
De um frágil músculo ainda não treinado tentando
Vociferar o presente e viver de eco.
E de olhos abertos temos certeza de que ainda estão lá
A ganância e o odor da mortífera frieza humana
E tudo que você queria era uma sensação de calor vinda de qualquer lugar
De qualquer hemisfério, continente...
Entretanto você está lá: Frente a frente com o mundo.
E a dor de viver te espeta com esperanças e sonhos, com desalentos...
No fundo é você contra você mesmo, sabe?
Você tenta se convencer de que há algo maior,
De que há uma estrada de tijolos amarelos
Que te levará ao doce lar do contentamento.
E então um dia você vai abrir os olhos
E a dúvida se você é o que devia ser vai te consumir
Porque o mundo é uma imprevisível pergunta para a qual não se tem resposta
E as respostas são monopólio da dor.
O mundo grita e tenta te jogar aos porcos
E a tarde chega com pessoas que não sabem exatamente
Qual é o caminho.
Estamos todos nessa jornada, nesse anestésico suplício
Da fronteira demarcada entre quem somos e o que seríamos
Se soubéssemos quem somos.
E tudo o que podemos fazer é abrir os olhos
E nos cegar com a luz, enxergar é sempre a melhor maneira
De nos mantermos alheios ao mundo.
E então você fecha os olhos e tem que conviver consigo mesmo
E a alma nos enlouquece em cada silencioso interrogatório
Viver é acreditar na estranha ilusão do conflito entre nós e o que nós vemos.
Só assim dentro de mim é que consigo me esquecer por um breve instante
E nesse sublime ato de auto piedade regresso em mim
Um pouco mais eu sem saber quem sou.

pequena descriçao do blog

a arte com palavras tem que ser intensa, mas ao mesmo tempo sádica, mentirosa mas sagaz, gosto de ter as palavras sobre controle e brincar com las, quanto menos tempo eu gastar compondo um poema, melhor pois soa espontâneo, isso é arte
isso é minha arte