Tortos e direitos

E  se estou te esperando amor
basta acreditar
pois se estou aqui
é pra aprender a amar
mas não me julgue
com teu olhar pilantra
a gente inventa a solidão
pra disfarçar nossa fraqueza
e no fundo você sabe
que eu sei que você me ama
mas mentimos pra nós mesmos
o tempo inteiro
e você vai embora
com teus olhos marginais
olhando outros olhos
em lágrimas irreais
e eu te abandono lentamente
maluco pra voltar
e você discretamente
finge não ligar
a gente inventa cena
se joga na sarjeta
se finge de morto
ama sem querer
a gente inventa a nossa força
pra esconder a solidão
e é nos amando erradamente
que nos amamos em perfeição
pois tão errado quanto o preço
de se comprar o que é dado
é descartar um coração
que bate forte apaixonado
e velas voam meu amor
peixes nadam mais devagar
outono e inverno se convergem
ao te ver passar
e o que não acontecia passa a acontecer
toda vez que eu descubro que ainda amo você

Campos elízios

Diz-me que não queres o que não posso oferecer
a lua de outono, mares vermelhos ponho aos teus pés
mas toda vez que o sol se vai
te vejo chorar
talvez rezando pra que o amanhã chegue logo
e já tão cedo que é quase tarde
se põe a em meu lado dizer que me ama
e te digo minha menina
luz para a escuridão
e paz para palestina
que perto dos teus olhos
de estrelas o céu se esvai
junto de teus lábios
o horizonte perde simetria
ao som da tua voz
quase sinfonia
dedilho em teus cabelos
do nosso amor a melodia
recitas com tua voz
sonetos perfeitos
em prosa homérica
me perco tateando teu ego
em liturgia repouso
em teu leito sossego
pois em verdade te juro
que te amo e não nego

Soneto do amor em chamas

Queima-me se achares mentira fingida em meu olhar
que te devora feito alma quando passas
jura-me de morte, se não for amor o meu amar
que fica mais forte a qualquer mero gesto que faças

decerto não duvide do fogo no chão
que alastra luz onde antes somente houvera noite
nem do chão a gozar queimando de sua solidão
que não passas nem quando queimas em seu açoite

coíba de mim esse fogo
que se alastra em meu chão tão solitário
pois sou só mais uma peça em um jogo
um amante sozinho é apenas um coringa do baralho

arde sim, não há como negar
o fogo traiçoeiro que se queima ao amar

Soneto do cientista

Fazes de si própria promessa
dádiva e exatidão
dedilhando-se música com pressa
busca perfeita da perfeição

e se juras manter-se sóbria e feita
droga-te de si
indagas-te dúbia ou se estás aqui
aferindo tuas dúvidas perfeitas

mas se juras amor se desencanta
pois saber ilusão é o que mata
e caminho te louvando ó nobre santa

qu'em overdose de si puro egoísmo
jurou de amor seu ceticismo

Soneto de outono

Tu que antes era minha terra firme
hoje é solidão desritmida
antes, voz e presença sublime
hoje seu dizer sem falar nada

e não ouso chorar seu santo nome em vão
pois perdi-a sim sem o menor esforço
pois sendo assim grito e não me ouço
prensado em meio as vozes da solidão

donzela de amargo sabor para um coração quebrado
antes rosas murchas de um amor que queima
do que lírios inteiros prum coração congelado

pois senti na pele a dor se propagar
a partir de um coração dormente de tanto amar

Hipócrites

E cá estás, física molecular
células tronco e algodão
e te aprecio simetria
olhos de quem sabe que é ouro
em forma de mulher
um passo atrás, neblina em teu resplendor
põe-se a chorar como humana
divina sátira de mim mesmo
não crer em nada
mas ver em ti santidade
que nem mesmo achei que houvera
mas há em ti minha hipocrisia
pois amar é assim
fingir amar tão profundamente
que de tanto mentir o que sente
torna-se real minha ilusão
e te aprecio como a um quadro
mas venero-te como mulher
te olho como porta retrato
mas desejo-te enquanto noiva
contradiz-me com teu apelo manso
e domina-me com tua indecisão
faz de mim caminho
pois és tu minha estrada guia
estrela vermelha
passado que se faz presente
em uma eternidade que acaba toda noite

pequena descriçao do blog

a arte com palavras tem que ser intensa, mas ao mesmo tempo sádica, mentirosa mas sagaz, gosto de ter as palavras sobre controle e brincar com las, quanto menos tempo eu gastar compondo um poema, melhor pois soa espontâneo, isso é arte
isso é minha arte