A história de um dom Juan

Tal qual poema assim distante
Tive que ler nas entrelinhas, das tênues linhas
De definição do seu rosto
Êxtase com gosto de batom desconstruído
Pelos mil versos livres
Que eu fiz questão de prender ao seu ouvido
Como poesia
O bar era teu dono aquele dia
E eu temia, não ser capaz de lhe entreter
Tal qual monotonia, seus olhos ansiavam novidade
Quase que ironia, era minha dona na verdade
E eu só senhor de tuas vontades, te requeria
E repreendia o teu cangote minha mira
Enquanto eu te beijava a gente fazia poesia
Melodia, sinfonia, a flor do dia, a beleza da sintonia
E eu te achava em cada traço, em cada parte do meu braço
E recriminávamos o sol que já nascia
E dava fim a poesia, como um ponto final.

De madrugada

Eu já me cansei da tristeza

E venho em tom alto nesta mesa proclamar
Que a noite agora é minha amada
E que todas minhas mágoas hei de afogar
Na chuva de lábios serenos
Embaixo deste céu negro em que estou a habitar
Pode ficar a noite com suas estrelas
Amores passageiros que no fim da madrugada hão de passar
Hoje eu só quero um sorriso, este sim amor eterno, que há de durar.

Namorada.

Não te iludas com teu terno passado

Tens no bolso o recado
O último que te deixei
Pois não posso mais ser passado
E tu só o retrato do homem que amei
Se me fosse honesto, ainda haveria
Quem sabe um dia, retorno meu
Mas se foi não muito mais que de repente
O homem cortês a quem amei.

E se lhe fiz vítima de meus anseios
Sem mais floreios, vinha até mim me contar
Que se cansaste dos meus afagos
E que em outros braços
Agora queres repousar

Mas nem mesmo esse último carinho
E foste mesmo sozinho a boemia do bar
E se perdeu em outras damas
Meretrizes da cama pôs-se a provar
E ofendeu na tua volta, com teu cheiro de outras
O nosso um dia dito lar.

Então adeus você, homem do passado
Que eu na morada do acaso
Hoje eu vou em passos largos por-me a dançar.

O rebaixamento de plutão

Meu coração de pedra

Mármore escupido
Escoltado pelo cupido
Pra um mausoléu qualquer

Quando eu era de prata
Bala num calibre trinta e oito
Apontado pro coração de uma mulher

Enquanto eu era de ferro
E me via enferrujando
Sobre o chão sob os seus pés

Eu era um livro aberto
Te implorando pra me ler
Eu era tanta coisa
Não sei quanto a você
Mas seu, eu nunca mais volto a ser.

Habita

Se há felicidade?

Nas coisas pequenas 
Que só se enxergam a olho nu
Nos sorrisos que não vêm disfarçados
Os ditos crus.
Se há felicidade?
Embaixo dos céus azuis.

Eutanásia

Certa vez eu quis ser romântico
E com prazer ser refém de uma dor em meu coração
Eu queria deixar abertas todas as feridas
Pra deixar a dor eternamente em exposição
E viver da dor, compactuar com a dor
E manter a ingênua sensação de felicidade

Conheci alguns românticos nessa vida
Em outras vidas, deveria haver muito mais
São pessoas geralmente felizes 
Que não se cansam de sofrer

Carregam contentes em seus peitos tumores
Que torturam, machucam,sangram 
E sequer tem a decência de matar
Pra esses tipos, acostumados com a cruz
Pregando seus braços e pernas
O pior castigo pra um amante
É ser condenado a vida eterna...



E viver eternamente da única dor que vale a pena
Passar e eternidade entre os porres e os poemas
Se deliciarem de seu sangue derramado
Sem ao menos poder de fato dizer que isso é errado

Todos os mandamentos, não importa se de Deus ou do Diabo
Como podem negar ao amante o pecado

E fazer disso uma lisonja ao amante
Ser descontente com o próprio querer
Por isso há tão poucos românticos vivos
Pois os que o são, não mais querem ser.

pequena descriçao do blog

a arte com palavras tem que ser intensa, mas ao mesmo tempo sádica, mentirosa mas sagaz, gosto de ter as palavras sobre controle e brincar com las, quanto menos tempo eu gastar compondo um poema, melhor pois soa espontâneo, isso é arte
isso é minha arte