Sobre o amor não há muito o que dizer
Além do sublime diálogo mudo das pupilas
Qualquer fala é mera vaidade do som.
O amor é um tempo verbal que não se conjuga
É estar amando no futuro
Um presente que passou
É molhar com fogo
Um rio que já se secou
É queimar com água
O fogo que se apagou
O amor é a inversão perfeita de valor
É a prova sacra de que a revelação do mundo
Parte do beijo.
É o abraço da virtude com a loucura
É o sentimento sem cura.
Amar é crer no amor, é ter fé na loucura
É incinerar no peito o mundo
Amar é a faísca que Deus nos deixa ter
Da fogueira da salvação.
Divina comédia.
Foi
Digam ao mundo
Que no abismo surdo da fala eu não caio mais.
Ai de quem não escuta a sábia voz do silêncio
E não sabe que viver é flutuar em si só.
De...Todos esses que nos cercam
Despedaçados destaques de nós mesmos...
Os que nos rodeiam,milhares de espelhos cegos
Que não conseguem ver o que refletem.
E o que sentimos?
Senão breves sussurros, senão despistadas faíscas
Travestidas de sentimento puro.
Nós trazemos o mundo nas costas
E o peso de sermos entranhas expostas
Flagelos de carne ambulante,
Só conhece o pesado uivo do tempo
Quem deseja com ardor o instante
Quem eterniza um momento
Que eternizado passa, como qualquer outro.
E faz de vulgar a singela raridade,o tempo tem suas vaidades.
Digam ao mundo que é difícil ser o que é
Que existir é ser maré, é trazer de volta tudo aquilo que se recusa a ir
E levar tudo aquilo que se recusa a ficar
No fundo é misturar o que se é
Com o que será.