Há uma dubia flor
Que despedaça a cada segundo.
Há em algum lugar da sua cor
Mais cores presentes.
E outras tantas ausentes.
Tantas ausencias que superam na flor
A sua multiplicidade de presenças.
Estao presentes na flor o cheiro e a textura.
O sabor,a delicadeza,o fardo de ser flor...
E saber que a beleza se guardou pro final
Nem semente,nem raiz,nem toda a juventude...Flor,como havia de ser.
A beleza do final. Apoteose do trivial.
E com tantas presenças lhe falta uma infinitude...
Ha tanto em nós...
Falta tanto na gente..
Reticências...
Estar
É da lembrança que se faz o tempo
De tudo que passou e o que resta vir
E o agora é só mais um suspiro
Demarcando no chão o seu lugar.
Se viver não for a abreviação da ousadia humana
Não sei o que significa essa coisa estranha de fluir
Inventando palavras pra dizer o que ainda não se descobriu existir
E ver do telescópio que marte é muito longe e tão perto do peito
Há um coração que arde e uma pele tentando se descobrir.
Dou minha cara a tapa, a vida é o espetáculo do efêmero
É a fagulha se fazendo passar por fogaréu.
Não compactuo com isso, não serei o estetoscópio do infinito
Não exporei minhas entranhas ao mundo, prefiro a privacidade
Do meu eu interior.
Em mim vivo melhor que em outros cantos
Eis que aqui estou, salgando com choro o chão em que pisa meus pés
Levo no rosto apenas a luz refletida na pupila do sol que me guia e me cega
E o sentimento do mundo
Ai de quem ousar me parar
É da lembrança que se faz o tempo
E eu lembro...
Eu também estava lá
Divina comédia.
Sobre o amor não há muito o que dizer
Além do sublime diálogo mudo das pupilas
Qualquer fala é mera vaidade do som.
O amor é um tempo verbal que não se conjuga
É estar amando no futuro
Um presente que passou
É molhar com fogo
Um rio que já se secou
É queimar com água
O fogo que se apagou
O amor é a inversão perfeita de valor
É a prova sacra de que a revelação do mundo
Parte do beijo.
É o abraço da virtude com a loucura
É o sentimento sem cura.
Amar é crer no amor, é ter fé na loucura
É incinerar no peito o mundo
Amar é a faísca que Deus nos deixa ter
Da fogueira da salvação.
Foi
Digam ao mundo
Que no abismo surdo da fala eu não caio mais.
Testamento
Talvez seja esse o mistério da vida.
Bipolar!
Amanheceu,
Seus olhos mascaram o tempo
Ninguém nasceu,
O mundo é só o momento
Ninguém morreu,
A vida é mais pra lá.
O teu umbigo é um prato fundo
Vai matar a fome do mundo
No abismo do teu eu.
E quando tu fores tu não se esqueça de por um segundo
Parar pra enxergar o mundo
Com os olhos que já tivera
É que o passado reverbera
E o futuro é um som que ninguém ouve.
Amanhã vai amanhecer
E depois de você
O que tu será?
Teu sono
Quando tu dormes,adormece o mundo
Cabisbaixo...
Atras dos seus soniferos olhos
Repousa a estrela
Desejo te-la.
Pelos seus olhos a janela
Pelos teus labios se revela
A ansia de viver...
Ao seu lado,ser ou nao ser é uma mera questao
De tempo.
Ao teu lado o mundo corre lento
E cada momento tem um novo sabor.
Por cada canto de sua rubra face sonolenta
Um cometa
Pra voce... Papel e caneta
Um poema
Pra nos dois a eternidade da vida
E o que ela trouxer
E o tempo ha de ser so nosso
Haja o que houver.
Perfumaria!
São todos lírios