Cartas para um arquétipo.

E então você abre os olhos...
E é uma sensação estranha,, um certo tipo de alivio
Ver que tudo continua lá.
Os olhos ainda desfalecidos daqueles que choram
Os corações cortados ainda palpitantes
Salpicando de choro e sangue o chão dos desesperados
Por onde caminham nossos desencorajados pés.
O coração é uma corajosa antítese do tempo,
Por definição são eternos o passado e o futuro
Entretanto la estamos, guiados pela frágil voz pulsante
De um frágil músculo ainda não treinado tentando
Vociferar o presente e viver de eco.
E de olhos abertos temos certeza de que ainda estão lá
A ganância e o odor da mortífera frieza humana
E tudo que você queria era uma sensação de calor vinda de qualquer lugar
De qualquer hemisfério, continente...
Entretanto você está lá: Frente a frente com o mundo.
E a dor de viver te espeta com esperanças e sonhos, com desalentos...
No fundo é você contra você mesmo, sabe?
Você tenta se convencer de que há algo maior,
De que há uma estrada de tijolos amarelos
Que te levará ao doce lar do contentamento.
E então um dia você vai abrir os olhos
E a dúvida se você é o que devia ser vai te consumir
Porque o mundo é uma imprevisível pergunta para a qual não se tem resposta
E as respostas são monopólio da dor.
O mundo grita e tenta te jogar aos porcos
E a tarde chega com pessoas que não sabem exatamente
Qual é o caminho.
Estamos todos nessa jornada, nesse anestésico suplício
Da fronteira demarcada entre quem somos e o que seríamos
Se soubéssemos quem somos.
E tudo o que podemos fazer é abrir os olhos
E nos cegar com a luz, enxergar é sempre a melhor maneira
De nos mantermos alheios ao mundo.
E então você fecha os olhos e tem que conviver consigo mesmo
E a alma nos enlouquece em cada silencioso interrogatório
Viver é acreditar na estranha ilusão do conflito entre nós e o que nós vemos.
Só assim dentro de mim é que consigo me esquecer por um breve instante
E nesse sublime ato de auto piedade regresso em mim
Um pouco mais eu sem saber quem sou.

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pequena descriçao do blog

a arte com palavras tem que ser intensa, mas ao mesmo tempo sádica, mentirosa mas sagaz, gosto de ter as palavras sobre controle e brincar com las, quanto menos tempo eu gastar compondo um poema, melhor pois soa espontâneo, isso é arte
isso é minha arte