Após o terceiro impacto

Nas manchetes dos jornais mais importantes

No dia-a-dia nos momentos cruciais
Palavras soltas em latas de refrigerante
São como filosofias de mesa de bar

Nas mãos da coca-cola, qualquer coisa é propaganda
Qualquer coisa se propaga pela fé sem ideais
Qualquer sorriso é propaganda de pasta de dentes
Anunciada pelo espelho de pessoas normais

Beber água é um aviso pras grandes corporações
É como controlar o compasso de apaixonados corações
A vida é curta demais pra ver o sol pela tela de um computador
Na visão dos distraídos o mais atento é o vencedor

Mas na visão do relógio todos os dias são iguais
De minutos em minutos por segundos desleais
Na visão de uma vida há momentos cruciais
Na visão do pensamento todos os sonhos são reais

Mas o silêncio tem a força que precisa a opressão
A maioria desconhece a força da expressão
É que falar é complicado pra quem nunca entendeu
O que acontece antes do segundo em que tudo aconteceu

Mas lá fora nem tá tão frio e o mundo inteiro congelou
E eu nunca quis acreditar em corações na promoção
Nem em silêncios necessários nem falha de conexão
Mas pelo visto acreditar é uma moda que não colou....


Retrato pra dois

Cadê, me diz quem é maior que o coração de dois
Nem dom quixote e seus dragões de moinho de vento
Pra testemunhar o sentimento basta estar lá e se deixar levar
Por uma conversa boa e então tudo bem
Mas me diz quem é maior que as causas de dois
Me diz quem sabe amar sozinho

Se for pra ser refém do tempo, me leve em paz
No calor dos relógios, pra ver se o tempo passa devagar
Se for pra me aprisionar,melhor nem tentar
Que a liberdade me faz bem, os ventos no cabelo
São minha paz, e o que é que o rio tem de mais?
Flui por aí sem saber das coisas do destino
E dos motivos da razão
Eu já cansei de procurar sentido
Foi quando eu te disse que o mundo não ia durar

E toda vez que o mundo acaba, amanhece melhor
É que é preciso pensar na arte do refresco
E refazer é tão lindo quanto criar
Olha o céu e o mar, pra ti não são nada mais
Que dois pontos horizontais parados
Mas do ponto de vista de um, é só o infinito
Cantando uma canção assobiada pelo vento
É difícil se acostumar com o momento

É que ele passa, mas deixa se levar pela sorte
Que eu fico aqui tentando adivinhar o quanto eu posso sonhar
Se for mais que o real então valeu a pena tudo isso
Brincar de fingir que o mundo é bom até ele acreditar em mim

Pelada na esquina

Deixa o mundo pra lá
É tudo igual no final, tudo acaba em fim
Onde estão os caras que escreviam poemas
E doavam seus corações a belas donzelas?
Onde estão os caras que sonhavam com o impossível
Até se tornar realidade banal
Onde estão as pessoas do "bom dia"
Os sorrisos sem ironia
As convicções do dia-a-dia?
Eu só quis brincar de inventar o mundo
Mas deixa pra lá, há sempre um outro dia
Pra gente respirar de novo
Tudo bem,quem se importa com os edifícios
É difícil de se entender
Quem se importa com os jornais
Com as idéias geniais
Com os átomos novos
Buracos negros
E essas coisas com nomes difíceis
Onde estão os chatos de coração na mão
Cantando uma canção dedilhada em violão
Onde estão os cabelos voando
As confissões em cama a dois
As banalidades do sorriso
Eu nunca quis brincar de inventar o mundo
Mas se for pra ser por nós que seja bem assim
Inventar o futuro nas palavras, achar os que se foram
Mas taí os dias não me deixam mentir
Tem sempre um após o outro
E outro ainda por vir
Ninguém é obrigado a estar aqui
Tudo bem , eu só quero brincar de inventar meu mundo
E aguardar sem pressa até o dia amanhecer...

Bom proveito

É estranho acordar assim....
Sabendo...Que a razão está distante
Todo dia o sol aparece, tem dias que ele é mais forte
Tem dias que ele faz sentido
Todas as horas o relógio conta, mas tem umas que ele deixa passar
São as que não importa
É nessas horas que eu penso em você...
Quando nada mais importa
Como será que seria se não fosse do jeito que foi?
Então o relógio continua contando o tempo
Nem vejo quanto tempo faz...
O que sobrou? O que sobrou de nós?
De mim provavelmente nada...Talvez um nome...
Na tua folha de caderno...
Talvez...Meu telefone anotado em tua agenda
Talvez uma recordação boa ou ruim...
De ti...De ti sobrou a pressa de ir embora quando tudo acabou
Como quem quer recuperar a vida, curar o atraso, curar a ferida
De ti sobrou o desgosto...Sobrou...Sobrou a fome que eu ainda tenho
De sentir teu gosto
De ti...De ti sobrou você por inteira mesmo que indo embora
Sobrou as horas que eu dedico a pensar em ti e do que sobrou de ti
De ti sobrou o silêncio que guardo como uma palavra forte
Daquelas que só se recita num poema bonito
Mas o sol nasce todo dia não é mesmo?
Com ou sem você...
Mas nos dias em que ele nasceu com você do meu lado
Haviam sentidos e cheiros pr'eu ignorar o mundo
Parece que brilha mais, parece que brilha de verdade
Parece ter sentido, razão...
A lua aparece toda noite, e daí
Quem se importa com a lua?
Quando é que a lua fez sentido? ou o sol? ou o amor? ou você? ou eu?
Acho que somos duas paralelas
Marcas de pneus na estrada que nunca levou a lugar algum
Mas é sempre bom curtir a viagem!

Liberdade....

Timidamente os guardanapos nos teus lábios
São retratos da infelicidade em mim
Eles te atiçam, como queria eu atiçar-te
E o toque deles parece não ter fim
Como fim teve o fim de nós dois
Dois monstros, feras insaciáveis separados por nós mesmos
Então me ponho a perguntar se tal como os guardanapos
Não teria eu fim em mais uma refeição juntos?
Ou seríamos somente fantasmas, ou seríamos somente nós dois?
E o que há de ser um sonho senão uma realidade escondida?
E o que é o real senão um sonho vivido lentamente
Até abstrair-se em vontade e ressentimento
Não, não há som nem razão nas estrelas
Não há razão em querer-te, não há razão em mais nada
Mas há um lado bom em tudo isso...
Sonhar que existe um lado bom...
Se não existir....Adeus...
Lembre-se de bater quando voltar, se voltar
Eu prometo não estar muito ocupado e te receber de braços abertos
Se esses ainda quiserem se abrir
Guardei o guardanapo que tocou seus lábios
E é dele a última recordação que tenho de ti...

Desalento...

Hoje acordei feliz pela primeira vez
Por não te amar
Tantos , nossos encontros,
Em desencontros põe-se a acabar
Às remessas, tantas falsas promessas
Palavras soltas, sem intenção de se concretizar
Hoje , acordei feliz, sem ter-te ao meu lado a me consolar
Teus braços em tantos abraços, nessa nossa cama
Pôs-se a me aconchegar
Teus olhos meu holofote, o cheiro do teu cangote
A me aconselhar
Teu corpo, objeto sacro, o teu gosto raro
A me embalar
Hoje acordei feliz,sem ter ninguém para conversar
Ouvindo o vento ao meu lado, assobiando solidão
Pra me assombrar
E o preço de viver sem medo
De perder a quem se acostumou a amar
É ter ao seu lado somente a si mesmo
E viver com o gosto amargo de um cigarro
Mal tragado a te adoentar
É quando está doente, acordar sem gente
Pra te acalentar
Hoje acordei sozinho, feliz nem um pouco
Por te perder
Encantos, diga pra que cantos
Devo ir agora procurar você
Hoje acordei feliz, pela primeira vez por não amar ninguém
E sentir na pele a brasa quente que é a solidão
Se amar-te nesse desapego
É fazer apelos, pra te ver voltar
Acordas, bem do meu lado
Sente o meu pecado te perdoar
Minto, amor, eu sinto muito
Por te ver partir
E arde como veneno, cachaça barata
Não ter você aqui....

Saavedra

É assim que é,melhor não saber
Que há de acontecer, amar alguém
E por mágica acreditar
Em sereias dentro do mar,
Em estrelas com gosto de amor
E se perder em um sorriso
Mapeado pelo rosto
Que tem em si seu gosto favorito
Eu que sorri, pra chegar até você
Atravessei um mar de gente que não sabe o que é amor
Meu bem, eu que sorri pra tentar te conquistar
Só retribuí tua gentileza de me amar
Mesmo sem saber

É assim que é, melhor deixar pra lá
Pra que ser perfeito? basta ser o que é
Meu bem, e o que é o amor?
Uma lista de coisas sem sentido, sorrisos sem razão
Discutir Tom jobim a beira mar, rir da sua cara sem parar
Beijar seus braços , repousar nos abraços que me dás de vez em quando
E por mágica acreditar
Em ondas de mil metros, em vagalumes cegos que não sabem brilhar
Vamos caminhar no bosque, iluminar o sol com o seu batom vermelho...

Deixa pra lá, melhor que tudo é aprender a dividir
O prato o porta retrato, o calor do corpo, o sorriso com o outro
Até o fim brincar de terminar com tudo
Até o fim do mundo, até o sol beijar seu rosto e me matar de ciúmes
Pela última vez

Sexta feira

Respiro esse céu cego
A quem me apego
Tantas estrelas
Ponho-me a vê-las
E acho por certo
Então me perguntar
Se vale a pena
Nesse céu cego
Ao qual me apego
E não sossego
Até desvendar
Os seus segredos
Morrer de medo
Desfalecer em continuar
Desses martírios a vida
E das estrelas queridas
Nada mais enxergar
Que fotos velhas desgastadas
Pedaços de almas roubadas...

A felicidade sempre tão distante dos olhos
No coração se faz presente quando com o sangue pulsante
E quente
Olhando prum céu cego, ao qual eu deixo me apegar
Descubro a felicidade, num momento raro, de um querer-te, caro
Amigo céu
De que adianta ostentar tantas estrelas
Se o céu é cego e não pode vê-las.

Cantores mudos não fazem sucesso

Pois bem, meu bem vamos embora
Quem sabe outra hora,
A gente possa voltar
Não brinque com o tempo
Nem com seus momentos,
Ele sabe se vingar
Cacos do passado na lareira
Com vagalumes sem brilho
A nos guiar
Pela porta trancada da sala
A maçaneta é a entrada
Pra onde reina o seu sonhar
Como se já não houvesse sonho
Num balão que roda o mundo
Põe-se a flutuar
Hoje é mesmo um dia sem cor
Entre as artes do passado e o seu batom
A me beijar
Longe o tempo chama nosso nome
Não sei onde ele se esconde,
Mas não consigo me deixar
Ser levado pelo tédio que é o melhor remédio
Quando tem-se que rezar
Eu que nunca fui um cara esperto
Hoje sei por quase certo
Que o negócio é duvidar.

Ode ao passado !

Aqui ainda tá escuro
Em passos e assobios
Ouço o vento me chamar,
Se liquifazer, em nada mais que pensamentos
Vem , que o ontém inda tá fresco, na cabeça eu te mereço
Mas não é assim no meu fazer
Vem, que eu hei de achar razão
Pra lutar pelo outro dia, mesmo que o preço do querer
Seja alto pra pagar

Vem , que o escuro já me chama, e sem ter-te em minha cama
Não há motivos pra acordar
Vem, que as razões do edredom, gritam em alto e bom som
Pra você se deixar levar
Vem, que eu me devoro insaciável,minha pele impenetrável
De aço é fácil de sangrar
Vem, que eu ainda me recordo,das ações de outro dia
Quando em meio a ventania seu cabelo
Pôs-se a flutuar

Eu que nunca tive medo, do pulsar de seu segredo
Ouço em um violão, recitado em dedilhado
Que quem errou foi o passado de traçar em paralelas
O futuro de nós dois
É mesmo estranho ouvir a porta rangindo
O amanhã em meus ouvidos
Sussurrando uma canção,
Meio assim desajeitado
O presente é o passado das certezas do depois
Vem, que a solidão me apavora
Enquanto ela me devora, e explana sua glória
Eu estou só no meu quarto, junto ao porta retrato
Sem foto alguma na parede
Nada mais do que os alardes de uma alma sem ninguém
Sem saber se teve ou se terá alguém pra me acompanhar
Quando o inverno bater na porta e por fim decretar
Que se importa com a alegria morta que eu ponho a declamar
Nesses versos de inverno, quente como o inferno em minha garganta
O gosto de devotar a santa do meu bem querer.

Santa solidão proclamada, que sem ti não sobras nada a não ser
O espaço que existe, dentro daquele que insiste em existir sozinho
E reclama do caminho que ele mesmo escolheu.

Perfume de areia

Santos, não sei pra que tantos
Com taõ pouca gente pronta pra rezar
Pecas, fazes promessas
De tentar se ajeitar
Rezas prum santo cego, juro não nego
Este há de te escutar
Este aprende a ouvir agora
Que já não pode enxergar
Reza, faz tua promessa, o santo cego
Irá velar
Pra que te acertes, quem sabe prestes
Pra que prum coração apaixonado
Possa se candidatar
E então na igreja, onde te ajeitas
Ao santo possa suas preces atirar
Pranto, vestido branco,ao santo
Cego um outro dia chegará
Doado pelas promessas
Que chegam as remessas
Enquanto paras para respirar
Santos, não sei pra que santos
Eu mesmo não rezo, mas por ti tanto prezo
Que de joelhos, prum santo cego
Rezei pra te ver melhorar
Mentiras, suas mentiras, enquanto falas
Mil delas a vejo pronunciar
E o santo cego, juro não nego
Se te vê corre sério risco de se apaixonar
Santos, não sei pra que tantos, rezo pra ti
Pra que então possas me notar
Em prantos, é um outro dia, a melodia
Da areia indo de encontr'ao mar
Lua, lua tão cheia, em sua metamorfose
Se fotografa com pose pra então
Em sol se transformar
Mas de que importa os dias
Jogue aos santos, há deles tantos
Que um deles há de te ajudar

pequena descriçao do blog

a arte com palavras tem que ser intensa, mas ao mesmo tempo sádica, mentirosa mas sagaz, gosto de ter as palavras sobre controle e brincar com las, quanto menos tempo eu gastar compondo um poema, melhor pois soa espontâneo, isso é arte
isso é minha arte