Rafaella

Antes que se diga alguma coisa...
Que algo seja de fato feito por principio
Antes que se exista no plural
Que no singular o amor participe.

E desse desejo de unificar que seja o amor
Mensageiro
De duas metades
Um inteiro.

Pois antes que se haja o verbo esteja la o amor
Pois não fosse este,não seria este que sou.

Ha muitas formas de se haver o que falar
Mas antes que seja dito,seja fato. Antes
Que seja expresso,que exista.
Antes de revelado,infinito.

Lareira

Me leva pra casa,me guarda nos ombros

Me leva no bolso que eu acho algum jeito 
De me encaixar.

Me leva no colo, me beija na boca.
Me diz alguma coisa que eu possa lembrar
Antes que anoiteça.

Me olha nos olhos com esses seus olhos castanhos
Relógios do mundo esse par de mel na tua pupila
Me deixa te olhar de perto...

Quero sentir seu cheiro de vista bonita
Abraçar esses braços de "me faz feliz"
E por horas ficar sem fazer nada.

Pra fazer da preguiça nossa casa
E deitar na cama por horas e horas
Pra fazer da tua boca outra parte da minha.

Navegar na tua saliva e ver teu brilho
De relâmpago ao meio dia
Fazer da cama uma pátria
De mim o rei, de ti rainha.

16:45

Deixa o céu falar alto lá fora
Deixa o mundo e suas queixas gritarem
Usa meu ombro de abrigo,
Faz o meu peito de amigo que te mostro o silêncio...

Deixa essa luz te banhar de cor,amor
De que me importa o sofrer? Se tenho a vida inteira pra amar você.
Então vamos ser surdos ao mundo que grita
Se inspira nas pedras caladas.Que juntas,paradas...
Vencem o mundo pelo cansaço

Deixa o sol ir embora e chegar o mormaço
Vamos viver o momento
E fazer do nosso amor um eterno
Retrospecto do tempo.

Maciços.

Teus olhos são frutos intrínsecos
Interligadas bolas inverossímeis
Que de tão lindas parecem cristais
Que de tão puras comparações reprimem.

Teus olhos juntos,pontes pro além
Do mais que há, do acreditável
Teus olhos juntos, um olhar
Tornam real o inimaginável.

Eterno

Antes que me lembre de estar que eu seja
Ou que pelo menos tenha sido alguma vez na vida.
Estar é compactuar com o efêmero
Estar é frio ou calor.
Ser é duradouro,ser é cosmos que flui no infinito
Antes que eu esteja te amando que eu te ame
Antes que eu te ame que eu seja seu amor.

Meu tempo é quando.

Meu rival é o tempo.
Sou refém do momento
Renego que o passado se faça presente
O futuro é distante,mesmo que só por um instante.

Não nego o restante.
O que está entre o que foi e o que virá
O que está entre o dito que se dirá
O que está entre o que é e o que será
Eu gosto das fronteiras.

Pois é nesse tempo
O chamado presente
Que a gente é de fato
O que nos faz a gente.

Testamento de um velho chato.

Compadeço-me do mundo ido...
Do vindouro tenho pena.
Da saudade tenho medo,da esperança rancor

Pois se guardo do mundo sequer a sombra
Até esta se fará ausente
Quando no seu vindouro tempo a luz se tornar ausente

Se procuro,porém amor...Esse nem a areia das ampulhetas
Nem toda a água das clepsidras
Contarão o seu tempo.O amor não tem medidas

Mas dele é que guardo mais ódio,minha querida
Posto que não se acaba, se carrega por toda a vida
É um fardo,quase.Um sacrifício
Amar é escolher o amor como ofício

E eis que o amor cultivado a vida inteira
Como o mais belo lírio ou o vinho mais nobre na videira
Mas, quando este é flor e por fim pode se mostrar
A vida infame trata de provar

Que tudo tem seu fim e nem mesmo o amor perdurará
É uma pena pros apaixonados, saber que sua maior obra
Ao longo do tempo, em pó descansará.
É que dessa vida, o trato é que nem o amor se pode levar.



Carta para o culpido

Saiba que meu coração é um quarto vazio
Que calado se queixa desse mundo frio
Saiba que meu peito aberto não cicatrizou
Depois que como um passarinho você voou
Me deixando só pra amar por dois...

Saiba que eu não me recuso a aceitar o fim
Só quero que entenda não é fácil assim
Me manter calado vendo a melhor parte de mim
Partir pra qualquer lugar que não será meu
E ver que eu ainda sou inteiro seu
Mas tudo bem...Tenha seu final feliz

Saiba que andar só vai ser sempre minha sina
Que você pra sempre será minha menina
Saiba que só há uma coisa pior que saudade
Que é por quem te machuca jurar lealdade
Saiba que essa dor jamais terá cura
O pior é quando acha-se o que se procura
Mas por algum motivo não se pôde mantê-la...

Rimas para um coração vazio

Que não seja só ardor ou pudor
Que não seja só queimar esse amar
Há de ter calor e furor
Que não se venha a naufragar nesse mar

Que se faça loucura e não cura
Que não seja mito, acredito
Que mantenha a ternura, pura
Que não seja efêmero, areia, mas granito

Que te martirize,mas que num deslize
Te envolva pela boca, que seja afoita
Que cresça e enobreça, fertilize
Que se prenda e então viva, não solta

Pois que é duro perdê-la, aguente
Pois que vale a pena, se esquente
Posto que te queima, é quente
Caso o contrário desista, nem tente.

Sou todo ouvidos

Algo me diz que é melhor guardar segredo
Que vencer o medo é mais que necessário
Algo me diz que é absurdo
Nesse tão corrido mundo ser mais um retardatário
Algo me diz, mas digo não
Nem sempre vale a pena dar ouvidos à voz da razão

Algo me diz que eu deveria valorizar as cores
Algo me diz pra exaltar amores
Compor estrofes e versos,
Algo me diz pra viver intensamente a solidão
Mas não posso falar só com a voz da emoção

Como toda poesia, com toda paciência
Dançar no ritmo do coração, mas ao som da ciência
Esconder com vidro escuro buscando a transparência
Confundir a claridade com a clarividência

Unir o otimismo da vontade e o pessimismo da razão
Ouvir todas as vozes cantarem o mesmo refrão
E perceber que quase sempre
Damos ouvidos demais à voz da ilusão

Mariazinha

Deixa estar o céu e seu azul de par 

Com toda a sutileza da cor
Presentear o vento com o barulho
Mas não fui eu que fiz o mar
Eu não sou farol pra guiar
Deixa lá, olha quem vêm
Com toda a força de quem sabe o que quer
Não sabe que querer é a fraqueza da alma
E que ter é a certeza de perder
Mas quem sou eu pra culpar a perda 
Pela dor que ela causa?

Não seria mais fácil o mesmo céu azul
Anestesiar o vermelho do coração?
Pra que tanta cor se tudo é cinza sem ela?
Vê lá, é só a solidão me presenteando com carinho
E eu retribuo querendo um par

Deixe estar que a vida é só uma vela
E quem é que vai soprar
Se o nosso destino é maior
Quem é que vai viver de resto?
Melhor o acaso, que a sorte me convenha quando der
É só o que peço

A insensatez da carne

-Aqui estamos, ela pensou
Cansados de respirar esse ar que nos rodeia
Ocupados demais pra sentirmos de verdade
-Lá se vai a vida! Pensou ela
-Em um trem pra qualquer lugar ao sul
Enquanto a gente se debate numa agonia imensa
Tão desesperados pra sentirmos aluma coisa...Qualquer coisa
Que fodemos nossa vida no caminho em busca de sanar o vazio
-Aqui estamos, ele pensou
Ela não sabe que o vazio é um câncer terminal
-Melhor assim, ele pensou
Arrancando seu coração do peito, cavando um buraco com as unhas
Destroçando pele e nervos no caminho
-A culpa é do mundo, pensou ele
-A culpa é sua, pensou ela
-A culpa é de vocês disse o mundo
E nem o buraco no peito e o coração arrancado impediu que trepassem
Como se não houvesse amanhã
Pra eles não era o bastante, mas era o que tinham.

Dois pra lá, dois pra cá

Pra quem sabe que viver é se deixar levar
É tudo simples quando se aprende a ser mar
E fluir com a maré que volta e meia
Beija a praia pra sentir o calor da areia

E se calor é viver eu quero é sol
Que a chuva já flui de olhos demais
Cansados de tudo o que a vida dá
A desculpa da face é o choro
Mas, mais me convém sorrir...

Antes que eu esqueça das coisas da vida
Me lembra de ver mais um dia
Que eu vou viver só com a felicidade no rosto
Florescer um sorriso é raro
E o óbvio se torna tão chato hoje em dia

Pra quem sabe viver é só sentir o mundo passar.

Nua e crua

Pra que será então que o sonho serve?

Quando o coração ferve o que vale é ser real
E se emocionar sem esperar o troco da solidão...
Que enfim, virá só uma lágrima no canto do olho
Escondida se vai, virar qualquer coisa à dois...

E eu que nunca fui muito de sorrir não pude evitar
Quando você apareceu, cercada de vento e de sol
Quase uma estação em pessoa no primeiro andar
Daquele prédio que até então era tão vazio e frio...

Eu sei não é tão simples assim,mas quem é que pode negar
O frio que dá na barriga quando se aprende a deixar
A boca falar mais baixo que o coração
Eu sei, que desse mundo se leva tão pouco
E um sofá e um café funcionam melhor a dois...

Deixa estar que o mundo vai entender
Que qualquer coisa menor que o amor
É equivalente ao sofrer...

Como dois criminosos

Você ri de mim a noite inteira
Porque eu falo de amor e saudade
Enquanto você, deita e rola na cama
Faz o seu show, o seu drama
E me diz que amar é clichê
Que é como pedir pra sofrer
E que não compensa a dor...

Teu passa-tempo favorito é assistir eu me apaixonar
E quando o tédio bate forte em você me deixa prosseguir
Finge bem que se importa e quando te convém você até sabe me enganar
E eu acredito em você porque também não é tão ruim assim...

Na falta de algo melhor, eu me contento em ver seu riso forçado
Que você guarda entre os dois lábios que sussurram medo de solidão
Já que eu não posso escolher, aceito ser o curativo pro teu machucado
E pôr o dedo na ferida aberta do seu coração, por pura diversão...

Se me machuca não te importa se te dói não me incomoda
Não há muito o que fazer
Esses seus olhos que não choram teus ouvidos me ignoram
E eu faço o mesmo com você

Você se despede e vai, pra onde eu finjo não querer saber
Por dentro eu me corto então, eu me preocupo com você
Eu fico aqui tão só, o espelho é minha companhia
Me culpa, me morde, me fode, me esfrega na cara tudo que eu já sabia

A noite se vai sem saber, sem perceber, ela já se transforma em dia
Seu cheiro ficou aqui, grudado em mim, perto dessa parede fria
Brinca de se divertir, que eu vou arrancar de mim, cada pedaço teu
Difícil é distinguir e descobrir se aqui ainda tem algo meu

Você se despede sem ir de fato embora, só pra me deixar assim
Você ri de mim toda hora que eu ameaço te deixar,
Sua diversão favorita é me culpar
Apontar meus defeitos, roer meu peito, só pra se justificar
É o crime perfeito, esse seu jeito
Estranho de me amar

Maria e os diamantes

Anuncio entre vitrais teus olhos
Me acostumo com os sinais perdidos
Entre estrelas e lençóis, a noite
Vem relembrar o que ficou distante

Eu que não me acostumei ao gosto
Ao sabor meio amargo do teu rosto
Me humilho pra jogar seu jogo
Me desmantelo por qualquer mais pouco

Troco farpas com você ,
Me acostumo devagar com suas manias
Suas besteiras desvendadas no mistério do edredom
Fico ouvindo escondido você errar o tom
Da canção que eu compus pra você
Quando a janela do terceiro andar abriu
A noite me parecia vaga
E o teu ombro tinha cara de lar

Onde eu quero dormir e acordar
Onde eu quero fazer minha rotina
Pra saciar minha retina
Que quase morre de vontade
De engolir seus olhos
De colar tua lingua na minha
De fazer poesia nua e crua
Que arrepia a alma e tira a calma

Quem descobriu seus olhos mentiu
Se chorou ou sorriu
É mais que qualquer reação
E eu que não pude dizer
Como pode tentar explicar
O que só se pode saber
Vivendo intensamente a sensação de te olhar

E eu me pergunto pra que será
Que alguém vai esvaziar todo o coração
Pra que será?
Qual é a graça de sorrir em vão?

Transparência

Eu falava sobre seus olhos
Quando o vento frio de uma manhã qualquer
Me lembrou de olhar pro céu
Azul como o céu azul desses olhos teus

Antes da manhã , porém , amor, me diga
Em que parte da lua te escondes, entre quais estrelas?
Pr'eu saber contar aos mortais dos teus olhos infinitos

Mais que o dia, porém, maior ainda que a noite
Antes de qualquer estação, me diga bem, por onde
Diga-me quando. Estarei esperando como os cristãos aguardam
A vinda do profeta

Mas meu bem, só me relembre
Antes que eu me esqueça do teu cheiro
Porque teu nome já me soa como despedida?

Introdução

Eu não quero mas olhar entre pirâmides de espelho
Teus olhos trancados e tão superficiais
Seu jeito de última gota dágua no deserto.

Eu posso ser seu guia e até um pouco mais
Mas não me deixe assim a sós
Que a solidão me entedia tanto

Me lembra de olhar pro céu de noite
E batizar alguma estrela com seu nome
Até penso duas vezes se você me chamar
Mas não me peça pra dormir aqui

Antes que eu esqueça a felicidade é uma mentira
Que eu conto pra mim mesmo sempre antes de dormir
Seu sorriso é uma farsa e não importa o que me diga
Eu aprendi a me esconder atrás da porta e não deixar ninguém entrar

Só me conte como foi seu dia que eu preciso ouvir sua voz
Mas não me venha mais falar de amor.

Às vezes parecia que era só andar pra frente
Sem se preocupar com as curvas do caminho
Não me importam os poemas nem as velhas canções de amor
Eu só quero um tempo só pra mim

Não me importam mais teus lábios nem a luz do seu suor
Porque que a gente é assim?

Tenho medo de viver a vida sem você
Tenho medo de viver sozinho
Tenho medo de ser um dependente químico do seu amor

Eu sofro de um mal interminável, cuja cura é fácil de encontrar
Eu vou bater na porta da sua casa, mas não me obrigue a ficar

Quero ir embora antes que eu volte a me apaixonar
E aí então comece tudo de novo outra vez
E tudo volte a ser igual
Quero a mesma história
Mas não me conte o final

Tentativa de fuga

As vezes tenho medo de tentar enxergar um palmo a frente

As coisas não são mais as mesmas há algum tempo
As vezes parecia que era válido sonhar
Parecia que a felicidade havia me perdoado

Tenho muito medo das coisas da vida
E do peso que elas carregam
Tua falta é a saudade mais sincera

Nas madrugadas divididas com frases de carinho ditas com sono
E nos teus olhos me acusando com razão de te amar

Aonde foi parar tudo isso? Não se esquece lembranças por aí
Talvez seja só a falta de outro alguém pra ser como você
Ou talvez seja só você e mais ninguém
Eu nem sei se vale a pena estar tão mal
Nem sei se eu já fiquei assim tão bem

O tempo que esfarela a pedra cicatriza as feridas
Mas eu nem tenho a carne aberta, meu problema é com a vida
Meu problema é com as fotos , meu problema é com aquela música da Marisa Monte
Meu problema são seus olhos eternos, fantasmas dos meus
Meu problema é a vida que não importa o que eu faça
Ou com quem eu a passe...

Desculpa se eu sinto sua falta
Desculpe-me por te amar
Desculpe-me por dar tantas voltas
Mas tudo que faço é pra te encontrar

Tudo que eu vejo cabe em ti
Tudo o que eu falo tem seu nome em segredo
Tudo que eu vejo cabe em ti
Por isso eu morro de medo de fugir
O mundo inteiro cabe em ti
E eu já não tenho pra onde fugir


Desabafo

Você enche a boca pra falar de amor
Como se ele sozinho satisfizesse todas as suas vontades
Como se fosse o bastante, como se fosse um mal necessário.

Você com teus olhos de vitrais,mosaico que me lembra o quão ruim é sofrer
Logo você com tua pele clara como uma folha em branco esperando uma história
Você enche a sua boca coberta por um horizonte em lábios que costumavam me morder
Pra falar de amor e sinceridade, de tudo o que há de belo nesse sentimento covarde...

Até quando seus olhos vãos vão satisfazer outras vontades?
O amor não é suficiente até sufocar, não é uma opção morrer de paixão,é o único caminho
A ser tomado
Então você enche sua boca pra falar de assassinato?
Enquanto eu morro aos poucos preso num quarto, você vive feliz com outro amor

E o que sobra pra mim? Qual a parte que me cabe?
Se a felicidade bate a porta qual é a chave que a abre?
Eu estou cansado de tentar achar respostas quando claramente
A tua verdade mesmo que repleta de dúvidas é a única palavra que me sossega

Eu não estou mais tão sozinho, mas minha mente ainda tem teu cheiro
Meus olhos se recusam a fechar por medo de te encontrar no escuro
E quando a luz vier pra ressaltar sua silhueta não mais te verem
Ando com medo de sonhar contigo, e acordar perdido em meio a realidade crua

Nada está tão ruim assim, a vida vai até bem por sinal
Mas todo o bem que me acontece, sem você faz tão mal...

Eu não pude dizer, pois estava cansado.

Não que houvesse noite vinda,
Sem a antecipação dos seus sinais
Não que houvesse noite e pronto
Sem explicações ou mais

És da noite complemento
Dos dramas desleais
És do amor o firmamento
De seus efeitos colaterais

Ponho a questionar-me hoje, "talvez ou jamais?"
E eis que ouço tua resposta "tarde demais"
E quando viro as costas
Tua imagem se vai
Fico eu, fica a noite
Duas metades desiguais

Varro em meio a sala imóvel
O eco dos passos teus
Estirado em um qualquer canto, entre o talvez e o jamais
Vai fazendo mais sentido "tarde demais"
Ressoando em meus ouvidos como a arma dos sinais
O sinal que acredito, ter ouvido tarde demais

Então esfria e a lua chia, sombreadas nuvens por de trás
O relógio marca as horas " tarde demais"
Tão tarde que é quase dia e o dia não se vai
Eu entre o talvez e o jamais e você " tarde demais"

De repente a noite esfria e o calor eu quero mais
Talvez por querer de mais é que seja de fato
Tão " tarde demais"

E eu escuto a casa rangindo no meu ouvido
Que a noite agora é bem capaz
De me engolir enquanto eu vivo
Lamentando ser tarde demais

Dane-se a noite ainda estou vivo
Ela chegou tarde demais
E só agora eu entendo a falta que
Um relógio faz, pra descobrir enquanto há tempo
Que não há tempo pra mais

Antes " adeus, fica bem, até mais "
Que viver duvidando se talvez ou jamais

Mas a noite se foi levando tudo que o dia trás
Você, a noite...O mundo não olha pra trás.

Ela

Era espanhola, não de nascença
Mas de crença, de dúvida
Tinha interrogações no começo
E no fim de cada frase, quase
Como quem dissemina o não saber

Era ela, sem sê-la, sem vê-la ser
Era só o que dava
Cheirava bem, como o jantar de terça
Ou como o domingo na igreja
Cheiro de anjo cheiroso,

Era dramática, trocava a teoria pela prática
E fazia do mundo palco, desfilava tensão
As vezes romance, dialogava muda com a plateia da vida
Vaiava a própria apresentação, sem fim nem razão

Era mistério, o quinto hemisfério
Guardava em si a ambiguidade de se esconder
Em um óculos sem grau
Sorria com as dúvidas de espanhola
Com as interrogações implícitas
Não deixando perceber se de fato sorria
Ou se por dentro quebrava

Duvidava sem duvidar, sem dar margem
Indecifrável enigma da gramática
Quase como o detalhe de uma sobrancelha arqueada
Dando pistas sobre um olhar de mulher

No fundo não se sentia odiada, ou mesmo odiava
Era indiferente com o mundo, rodeada de imbecis
Com os olhos de noite, viris olhos de emboscada
Sabia que dali em diante
Ou seria amor
Ou então não seria mais nada.

Jura de amor

Eu só queria dizer que acho certo
Ter o teu amor ainda por perto
Mesmo que o perto seja ainda longe
Do que eu um dia esperei

Eu só queria dizer que ainda espero
Por um convite sincero
Me pedindo pra voltar
E que as coisas vão recomeçar de onde parei

Eu só queria dizer que não sei como
Conquistar esse seu coração sem dono
Satisfazer essa insana vontade
De te amar mais e mais

Eu só queria dizer que é doença
Me submeter a essa sentença
Me aprisionar cada vez mais
A teus padrões doentios
Mas isso é bem do meu feitio
Amar o amor mesmo quando o amor se vai

Eu só queria dizer que acho certo
Ter o teu amor ainda por perto
Mesmo que eu não saiba muito bem
O que fazer ou falar quando tu vens

Eu só queria dizer que não desisto
Por te querer é que ainda insisto
E o amor é só mais uma flor
Despedaçada no jardim que dá dó de ver

Eu só queria dizer que o amor existe
Embora eu não saiba direito aonde habite
Eu sei que querendo ou não
Ele se parece muito com você

Navegador das galáxias

Estou cansado de viver à sua sombra

Nadando contra a corrente desse eclipse solar

Estou tentando me desvincilhar dessa corrente
Procurando no sol quente uma sobra pra descansar

Estou cansado de ser a sua sombra
Seu porto, seu abrigo, seu ombro particular

Estou tentado a brilhar com a sua luz
Como o brilho descarado roubado do sol que a lua reproduz

Estou cansado de te encontrar nas sombras
Dos meus olhos fechados quando eu tento me safar

Me canso sempre toda vez que tu me assombras
Com o mistério desses olhos difíceis de desvendar

Me canso sempre toda vez que falta luz
Porque eu sei que é passageira a tua luz a me guiar

E irei ficar nas sombras do teu sorriso reluzente
Me fazendo de contente só por te observar

Estou cansado de viver as tuas custas
Brilhando com a tua luz
Como a lua tola espera
Um eclipse solar


O réu

Ando esmolando carinho pela solidão

Tão descontente quanto um cara o dia todo em frente à televisão
Sorrindo por sorrir por fora, pra tentar me convencer
A não chorar e me correr no vazio opaco do meu eu interior

E nessa sala onde repousa um coração vazio
Que já nem sabe se acredita nas indas e vindas do amor
Como pode o impossível ser tão atrativo?
Como pode alguém ser usuário da dor?

Permaneço face a face com o passado
Me banhando no gigante mar da vida
Ora, se estava eu o tempo todo errado
Porque ignorei a marca de todas as feridas?

E se for pra ser refém da solidão
Me desfaço de toda a dor que a causa
Pois o amor tem entendido errado sua função
Ou tenho eu sendo com ele muito duro
De fato parte de amar é pura dor
Como um moinho a triturar os grãos
Ou um copo vazio esperando pra se embriagar de vinho

Mas a outra metade é que é a solução
É ter na boca a certeza do gosto
É ter no rosto a felicidade escancarada
Como uma porta de igreja na manhã de domingo

E se ando esmolando carinho, mendigando paixões e amores sinceros
Me recuso a acusar o amor de ser algo menos do que dele eu espero.

Abajures no inverno

Deixa a vida rolar, me ajeita com teus sonhos
Ontem se ainda me lembro bem a gente era tão feliz
Mas a vida sempre dá um jeito...Me diz quem estará lá
No fim da estrada?

Ainda há muito tempo pra gastar comigo
Eu não sou só mais um inválido para o seu amor
Mas se você quiser me abandonar no frio
Eu encaro o mundo com uma mão só

Vamos brincar, iludir nossos corações com a vida
Deixa que os dias curem o que não tem cura
Vamos ser felizes até tudo acabar

Quem tem culpa sobre o coração
Quem tem força pra se levantar
Dúvidas demais, e eu sempre esqueço de encontrar a resposta

Vai ver que se o céu desabar a gente descobre
Quem tem medo do azul
E se as estrelas pararem de brilhar
Quem vai acender a luz?

pequena descriçao do blog

a arte com palavras tem que ser intensa, mas ao mesmo tempo sádica, mentirosa mas sagaz, gosto de ter as palavras sobre controle e brincar com las, quanto menos tempo eu gastar compondo um poema, melhor pois soa espontâneo, isso é arte
isso é minha arte