Tão nus teus olhos desprotegidos
tão semelhantes com o infinito
tão perfeitos bem mais que bonitos
que de olhá-los me sinto agredido
Tão cegos meus olhos vendo os teus
tão calmos teus passos vindo até mim
tão gato prum rato, alemão prum judeu
teu medo me guia do princípio ao fim
Tão errado como ver em teus olhos côncavo e convexo
meu olhar refletido meio opaco, já sem cor indo embora
e de tão tudo fosse embora, tu com a metade e eu com o resto
e meu relógio parou desde então,não se contam as horas
pois partisse levando de mim meu espelho
Que ainda vê foscamente tua boca que sem dó me devora.
Soneto do medo da amada
Algodão entre cristais
Eu daria tudo pra não te ver
pois por onde passas
metade de mim arrastas
e cria em mim feridas
que não vão cicatrizar
Eu daria tudo pra não te sentir
me olhar com teu olhar de sereia
ser tão água e eu tão areia
eu tão poesia e tu tão papel
me vejo em ti desmoronar
Não, mas do que valho eu sozinho
sem teu olhar de cão vadio
e me entorpecer e me sedar
se tudo é pedra no caminho
tu és da flor o mais puro espinho a me picar
e me devora com a fome de um furacão
teu pesadelo é minha ilusão
tão diferentes nós dois, a fome e a nudez
o vagabundo e o lord inglês
te vejo de mim se recortar
mas o que posso fazer, se sou só um poeta
eu daria tudo pra não te ver
desfilar por aí os teus passos
receber de outros corpos abraços
outros braços virem te mimar
mas te juro solenemente
te odiar e amar plenamente
e na fineza de teus traços prometo
te amar errado mesmo do meu jeito
sonhando em contigo nunca mais sonhar
pois de ti sou eu de presente
de mim és tu de bandeja
de nós dois somos um ao outro
guardados em porta jóias
dividindo o mesmo lugar
Bandido e carnal
Não precisa dizer,
Não quer dizer que não dê pra falar...
Nem por isso eu vou te ouvir
Mas você pode tentar...
Não é que eu não te ame,
Ou não te queira por perto
Mas é que te amar pelo avesso
Talvez nunca dê certo
Não é que não me faça feliz
Que não me satisfaça
É que por mais que o tempo não pare
Ao seu lado ele não passa..
E é certo amor, você também sabe
Que tanto amor errado
Num só peito não cabe
Quando então nos amamos do jeito certo
Já estou longe e não estás por perto
E te olho em silêncio na fotografia
E te ter junto a mim já não dá...
Pois nossos quinze minutos de amor
Esqueceram-se de acabar
E não me entrego de birra, de marra
Pois de ti já sou e tu sabes
Que essa droga de amor...
Em nosso peito não cabe
Juras de amor eternas, mentiras sinceras
Te prometo amor...
Mesmo que não queiras.
Termos e teoremas
Indescritivelmente foges, em teu olhar a lua
indubitavelmente em ti meu olhar se acua
Quase que descrente em minh'alma sua
interminavelmente minha vida é tua
e como tatuagem marca minha pele
e vai-te embora antes que eu acorde
doma-me como cavalo a fugir da cela
e põe-me a dormir bem em meio a rua
em tua vida simples tão normal
sonhando mais um sonho marginal
em teu corpo areia quente água e sal
repousa em ti os sonhos deste naval
e em ti minha paz se alegra e por ela guerreia
pois és grito de vitória para mim, terra sem bandeira
E vences serena e calma minha derrota derradeira
e me assaltas quebrando meu silêncio com uma britadeira
teu olhar que me acalma ó minha sereia
enquanto que te findo posto que és perfeita
tanta perfeição assim já não se ajeita
E fico a admirar-te com meu amor profundo
pois como juíza me condenaste a te amar pelo mundo
e te juro nobremente como cafajeste
que do meu coração se apossou como peste
que posto que é infinito em momentos quaisquer
Também cabe no instante de amar uma mulher
Paradoxal amor perfeito
No porta retrato já vazio
Sei rimar amor com dor
Não, não vou fugir de mim mesmo de novo
e dizer palavras sem sentido
não vou curar a minha dor
me entorpecendo de meus vícios
mas vou fingir de todo o jeito
até acreditar que mesmo sem te ter
eu nunca quis te amar
e se você quiser
eu tenho flores pra te dar
presentes a te trazer
poemas pra te recitar
mas não se engane amor
com meu jeito sentimental
fato é que eu
ainda não sei amar
meu coração tão cego e frágil
ainda não sabe se doar
e se entrega por inteiro
sem sequer se entregar
e é me contradizendo que te amo pelo avesso
sem saber se me amas
ou se tal amor mereço
não sei o que amar
não sei o que é lhe ter
não sei mais te olhar
sem querer lhe querer
e as rosas que roubei pra lhe doar
murcharam ao ver meu amor fugir
e quando minha covardia ousa dizer que não
algo no meu peito vai ao chão
e minha mente teima em me fazer correr
mas o corpo obedece ao coração
tão masoquista
tão sofredor
machuca tanto que só pode ser amor
Tortos e direitos
E se estou te esperando amor
basta acreditar
pois se estou aqui
é pra aprender a amar
mas não me julgue
com teu olhar pilantra
a gente inventa a solidão
pra disfarçar nossa fraqueza
e no fundo você sabe
que eu sei que você me ama
mas mentimos pra nós mesmos
o tempo inteiro
e você vai embora
com teus olhos marginais
olhando outros olhos
em lágrimas irreais
e eu te abandono lentamente
maluco pra voltar
e você discretamente
finge não ligar
a gente inventa cena
se joga na sarjeta
se finge de morto
ama sem querer
a gente inventa a nossa força
pra esconder a solidão
e é nos amando erradamente
que nos amamos em perfeição
pois tão errado quanto o preço
de se comprar o que é dado
é descartar um coração
que bate forte apaixonado
e velas voam meu amor
peixes nadam mais devagar
outono e inverno se convergem
ao te ver passar
e o que não acontecia passa a acontecer
toda vez que eu descubro que ainda amo você
Campos elízios
Diz-me que não queres o que não posso oferecer
a lua de outono, mares vermelhos ponho aos teus pés
mas toda vez que o sol se vai
te vejo chorar
talvez rezando pra que o amanhã chegue logo
e já tão cedo que é quase tarde
se põe a em meu lado dizer que me ama
e te digo minha menina
luz para a escuridão
e paz para palestina
que perto dos teus olhos
de estrelas o céu se esvai
junto de teus lábios
o horizonte perde simetria
ao som da tua voz
quase sinfonia
dedilho em teus cabelos
do nosso amor a melodia
recitas com tua voz
sonetos perfeitos
em prosa homérica
me perco tateando teu ego
em liturgia repouso
em teu leito sossego
pois em verdade te juro
que te amo e não nego
Soneto do amor em chamas
Queima-me se achares mentira fingida em meu olhar
que te devora feito alma quando passas
jura-me de morte, se não for amor o meu amar
que fica mais forte a qualquer mero gesto que faças
decerto não duvide do fogo no chão
que alastra luz onde antes somente houvera noite
nem do chão a gozar queimando de sua solidão
que não passas nem quando queimas em seu açoite
coíba de mim esse fogo
que se alastra em meu chão tão solitário
pois sou só mais uma peça em um jogo
um amante sozinho é apenas um coringa do baralho
arde sim, não há como negar
o fogo traiçoeiro que se queima ao amar
Soneto do cientista
Fazes de si própria promessa
dádiva e exatidão
dedilhando-se música com pressa
busca perfeita da perfeição
e se juras manter-se sóbria e feita
droga-te de si
indagas-te dúbia ou se estás aqui
aferindo tuas dúvidas perfeitas
mas se juras amor se desencanta
pois saber ilusão é o que mata
e caminho te louvando ó nobre santa
qu'em overdose de si puro egoísmo
jurou de amor seu ceticismo
Soneto de outono
Tu que antes era minha terra firme
hoje é solidão desritmida
antes, voz e presença sublime
hoje seu dizer sem falar nada
e não ouso chorar seu santo nome em vão
pois perdi-a sim sem o menor esforço
pois sendo assim grito e não me ouço
prensado em meio as vozes da solidão
donzela de amargo sabor para um coração quebrado
antes rosas murchas de um amor que queima
do que lírios inteiros prum coração congelado
pois senti na pele a dor se propagar
a partir de um coração dormente de tanto amar
Hipócrites
E cá estás, física molecular
células tronco e algodão
e te aprecio simetria
olhos de quem sabe que é ouro
em forma de mulher
um passo atrás, neblina em teu resplendor
põe-se a chorar como humana
divina sátira de mim mesmo
não crer em nada
mas ver em ti santidade
que nem mesmo achei que houvera
mas há em ti minha hipocrisia
pois amar é assim
fingir amar tão profundamente
que de tanto mentir o que sente
torna-se real minha ilusão
e te aprecio como a um quadro
mas venero-te como mulher
te olho como porta retrato
mas desejo-te enquanto noiva
contradiz-me com teu apelo manso
e domina-me com tua indecisão
faz de mim caminho
pois és tu minha estrada guia
estrela vermelha
passado que se faz presente
em uma eternidade que acaba toda noite
Portas e padarias
Quando tudo em ti é porta
eu não me importo de me trancar por dentro
quando tudo em ti importa
eu bato a tua porta portando um buquê de flores
e uma fala ensaiada
quando tudo em ti é lança
me balanças com tua destreza
quando você me balança
me lança aquele olhar de estrela
frustrada de hollywood
você é dez
desmiolada
você é cem
sem quase nada
mas você também
é tudo em nada
e nada nem ninguém pode negar...
quando és uma atriz de cinema mudo
quando eu parto e consigo estragar tudo
teu olhar me pede pra ficar
e você me faz parecer tão bobo
tão boboca
feito uma foca de circo
ou um surista de pororoca
você me faz tão feliz
felizardo
atingido por um dardo
em plena guerra mundial
quando não és nada
é que sou mais feliz
pois então és tu mesma
tudo aquilo que eu sempre quis
Interestelar amor
Nos braços frios da noite você se deitou
e eu sol, invejando a lua fiquei
e mil estrelas te sobrevoavam
e a gravidade me mantem a distancia
de que me valeo poder
de manter a minha volta uma galaxia inteira
se estou sempre longe de ti
e o pior, é que nem tão distantes estamos
mas não te sinto mais respirar em mim
e toda noite quando vejo em ti o meu reflexo
por deus, que te esquecesse por completo
pois lembrar que estás sempre por perto
é o que me distancia ainda mais
e quando em fim te cubro por inteira
em um eclipse de corpo
tua alma foge voando em outra estrela
e toda a sua forma já me parece pouco
e a felicidade passa voando num cometa
como quem ri da minha quase felicidade
e me diz aguenta
de que vale tanta força
sem nenhuma liberdade
então em um espaço infinito
que ainda é pequeno demais para nós dois
eu me alinho em meus pensamentos
que me fazem tão feliz
apesar de nós
Me perdoe
Você me recitava versos
me mostrava estrelas de dia
o brilho sempre tão raro dos teus dentes sorrindo
e eu sempre ocupado, sozinho em meus pensamentos
você me fazia juras, eternas com finais marcados
e eu te chamava de clichê meio blasé
você sempre demodé
me comprava flores
e me beijava com gosto de lícor de baunilha
e eu ocupado, lendo um livro, uma cartilha
tuas cartas com aroma de frutas
na porta da minha geladeira
ao lado de uma caixa de leite
e nenhuma fruta na fruteira
você chorava dormindo
fingindo estar feliz com tudo
mas eu sabia que só você era a dona
do meu teatro do absurdo
e foste emboro n'outro dia
dizendo que me amar foi um engano
mas eu estava ocupado
tentando bolar um jeito
de dizer te amo
Canteiro de obras
Tijolo por tijolo eles erguem o muro
tijolo por tijolo eles fazem o chão
tijolo por tijolo eles erguem o prédio
tijolos por tijolos, lhe dão proteção
tijolo por tijolo se abrigam da chuva
tijolo por tijolo e quase tocam o céu
e onde tijolo por tijolo nós só vemos tijolos
eles veêm nos tijolos sonho de papel
tijolo por tijolo uma casa humilde
sem tijolo nenhum pra se construir
pois os homens do "tijolo por tijolo"
tijolo nenhum podem possuir
e tijolo por tijolo eles formam familias
que tijolo por tijolo eles vão acentar
e tijolo por tilojo eles trocam suas vidas
para em tijolo por tijolo a gente morar
e tijolo por tijolo fazem suas preces
par'em tijolo por tijolo deus os abençoar
mas deus em suas casinha de tijolo
os tijoleiros não pode ajudar
e tijolo por tijolo a vida continua
pra quem sabe um dia em tijolos poder se deitar
pois não há tijolos lá na nossa rua
tijolo por tijolo a gente quer sonhar
tijolo por tijolo esmagando rosas
tijolo por tijolo, petunias, bromélias
tijolo por tijolo inventando prosas
tijolo por tijolo olhando da janela
tijolo por tijolo em um jardin cinza
tijolo por tijolo fumaça maldita
tijolo por tijolo misturando areia
tijolo por tijolo com cimento e brita
e quando os tijolos acabam
tijolo por tijolo a noite se aproxima
sonho com tijolos e com o trabalho
sonhando com em tijolos eu dormir por cima
Soneto de fevereiro
Se te vejo em fevereiro,com outros corpos te cercando
pairando ao som da apoteose, feito nuvem flutuando
se te vejo se amansando com teus passos de passista
em meus braços te carrego sem que duas vezes insista
passamos dias inteiros,eternos em vinte e quatro horas
antes mesmo que eu lhe peça, te levanta e vai embora
sem dizeres uma palavra te retira do meu lado
pois o samba lhe chama pr'outra noite de pecado
eis que chega a quarta feira numa manhã de muito frio
me endireito em minha cama, com o coração a mil
procurando uma estratégia pra manter sempre a vista
o calor daquela mulata, minha pequena miss passista
ah, vai entender o amor, de veras banal
que aparece e vai embora nas manhãs de carnaval
Drama do amor em sonetos
Te amo tanto, que vejo em ti meu astrolábio
e os beijos de novela me parecem tão distantes
que distâncias infinitas contigo percorro em instantes
que cada frase se transforma em poesia em teus lábios
amo-te tanto, que onde querem a guerra eu sou buda
onde querem que eu erre sou simetria
em discursos chatos te vejo muda
em noites escuras és tu meu dia
e te amar em sorrisos é quase destreza
pois em tua retina enxergo com clareza
e não há espaços para a tristeza
pois onde reinam dúvidas és minha certeza
e palavras soltas gramatica nenhuma há de dar sentido
pois amar-te mesmo que incógnito é o que me faz vivo
Soneto 73
Não demora o vento, a tempestade nasce outra vez
entre sóis e sorrisos a nos procurar
e se algum dia amor, ela fizer você chorar
não demora e o sol levarei a vocês
mas agora amor, teu sorriso frio vive a me torturar
no calor de seus lábios sonho em me perder
em teus abaraços sinceros jurars de amor lhe fazer
só para nossas promessas eu lhe ver quebrar
e se tua amiga rosa em tua porta bater
vá depressa amor pois amor verdadeiro esta vem lhe dar
mesmo que tu fujas ele é pra você
ou pra aquela que um dia aprendi a amar
e se teu amargo rosto um dia resolver sorrir
saiba que meu mundo ainda pertenci a ti
Dias melhores
Naquele dia em que o céu e o mar
finalmente se tocaram
dando fim aos seus martírios de amor
naquele dia em que os beatles voltaram
e john lennon não morreu
naquele dia em que os amantes se amaram
e nada de ruim aconteceu
naquele dia todos estavam na rua
menos eu
naquele dia em que o imposível aconteceu
em que fizeram as pazes
os nazistas e os judeus
e todos pararam pra ver a banda passar
eu perdi tudo isso
sentado em meu quarto esperando você telefonar
Simplicidade
Voam pardais
e com eles promessas
de que um dia iremos voar também
correm rios , correntezas
e com elas a certeza
de que tudo que vai
um dia vêm
assopra o moinho
que sempre traz
a esperança dos ventos
que sopraram para trás
soam palavras, sem parar
que são difíceis
duras de enxergar
tanta coisa acontecendo
e eu aqui esperando
pra abrir minha janela
e te ver passando
Sonhos hipócritas
Não há nada de novo em saber
que as coisas já não são como deveriam ser
mas sejamos sinceros
você também não é
não há de errado em dizer
que as pessoas se trancam em seus cadeados
casas compradas com o intuito de fugirem delas mesmas
mas sejamos honestos
você também é assim
teu espelho te engana todo dia
mostrando teu rosto bonito
teus cabelos e olhos claros
lindos como a noite de um inverno árabe
mas sejamos sinceros
isso não te satisfaz
você sonha em poder se jogar do quinto andar
na piscina de um vizinho qualquer
você sonha em poder se sujar
sem se preocupar
meu deus, o que eles vão pensar de mim
na verdade a verdade te assusta
e você ainda vive num comercial de margarina
mas pra dizer a verdade
nós também somos assim
e o que fazer
pra nos livrarmos dessa culpa
de não sermos culpados de nada?
talvez seja verdade
é bem melhor assim
viver todo dia
do princípio ao fim
talvez seja verdade
e bem melhor agora
viver em cada segundo
o infinito de uma hora
sem se preocupar
se é bem melhor assim
Livros pequenos com grandes finais nem sempre felizes
Não me diga pra tentar
eu já tentei tudo que há
a verdade sempre vêm
quando a mentira vai além
fala pra mim o que fazer
quando não há o que se querer
a verdade em um espelho
sempre mente pra você
não me venha com palavras
quando eu quero seu olhar
quem espera, sempre cansa
eu já cansei de esperar
o futuro se repete
em passados desiguais
fala pra mim o que que há?
quando não há nada mais
lógicamente, sensatamente
não tem nada a se fazer
clinicamente, erradamente
não há nada a se dizer
eu me perdi todas as vezes
que fui procurar você
mas hoje em dia
com toda essa tecnologia
gps e mapas do acaso
só te encontro por acaso
enquanto observo
o impossível acontecendo
rotineiramente todo dia
o inevitável, sendo evitado
felicidade se tornando melancolia
fala sério, por favor
por onde voa o condor?
tudo isso é tão normal
que chega a baixar o astral
fala a verdade você também
porque faz mal gostar de alguém?
nós já sabemos de tanta coisa
o que falta aprender
o retrato na parede
geometria plana
teu olhar
simetria
nada mais a declarar
que mundo chato
mundo sensato
mundo obcecado em descobrir
o porque de hoje e agora
e o que ainda está por vir
são só respostas
eu e você
não há mais nada a entender
fala agora, bem aqui
nesse mundo tão sem cor
em que já não se sabe o que é o amor
e o que importa são caminhos a seguir
de onde vim pra onde ir
é bem melhor assim
começar pelo meio
não passar pelo início
e abandonar antes do fim
Relatividade
Teus olhos já me disseram tanto
que antes mesmo calada eu ouvia o sonar de tua voz
teus olhos já me mostraram tanto que mesmo no escuro
eram faróis ao me guiar pela noite
até as nuvens, seus cabelos sobre sua pele macia
teus olhos já me fizeram tanto
que mesmo parada estava eu lá a te contemplar
como criança boba, como um jovem tolo a te amar
mas hoje teu olhar contente, de fogo quase ardente
se tornou reprovação
e me olham tristemente, como quem olha quem mente
com a verdade entre as mãos
e eu só fico a pensar sinceramente
que te amei eternamente
enquanto o infinito durou
Romeu e julieta
Trancado em silêncios, faces feitas
medidas de amargura, tristeza livre
solidão acompanhada de um doer profundo
teu gosto de mel longe da minha boca
podem chover ouros sóis e diamantes
que inteira és tu início em fim
distâncias astronômicas perdidas
dois braços atados em direções opostas
pois estou aqui ainda chegando
e quando vou bater tu fechas a porta
e nem em mil anos vou jurar-te agora
de teu olhar noviço vou me esquecer
pois disse-lhe antes o dizer de agora
tua partida irá me entristecer
minh'alma hoje chora enlouquecida
posto que tu num és já meu sentido de vida
tanto vales tu que hoje digo
já não é razão és minha inteira vida
tu que cativaste como uma jóia rara
e bandido fui de querer-te apossar-te
pois que foste embora pr'outras terras idas
e me deixaste aqui princípio sem fim
pois que minha fé em deuses e tormentos
de todos eles tu és a que acolho e sigo
pois se deus não sou tenho que dizer
teu olhar divino é meu castigo
O meliante
Sim meu bem, amor
chagas eu causei
matei um cidadão
que eu já não sei quem
veja bem, paixão
não foi por querer
é só um coração
que eu apunhalei
sozinho eu estava
quando então pensei
se ele pode amar
porque não poderei
e o coração a sorrir ficou
quando descobriu que é verdade viu
matei por amor
veja, meu bem
foi por acidente
com a cabeça fria
e o sangue quente
que por um coração que não sabe amar
virei um delinquente
e se perguntarem culpado direi que sou
mas a culpa foi sua
que fez meu coração
morrer de amor
O caudilho solitário
E é com o coração em pedaços que eu lhe digo meu amor
que nada mais há de verdade nesse mundo
que as cores do arco-íris a ciência descobriu
não passam de azuis e violetas
e se for pra ter coragem, que eu crie consciência
e transforme tua fraqueza em força
e cure tuas lágrimas em meu ombro pálido
de cansaço e sol em mim martirizando
e dessa pampa mundo, que larguei outrora
pra viver sozinho e sempre acompanhado
com teus olhos reluzentes poente de dois sóis inteiros
com nada fiquei, somente com e meça metade
e todos os homens sonham meu amor, é verdade
mas todos os sonham crescem paixão não se iludam
as crianças que mudariam o mundo o mundo já mudou aos dezesseis
e nada muda, enfim
mas somos todos alegres, eu e meu coração
pois de nada mais preciso a não ser você
e todos eles choram pela nação
por não amar você
e armas de brinquedo se atrevem a matar de verdade
nas brincadeiras
e eu aqui lutando pra não ver a tv me dizer
que é tudo ilusão
meu amor de verdade é uma mentira
e sua vida toda é uma farsa
quem sabe o futuro nos salve
não sou meu passado, é a verdade o meu futuro
se me pedirem conselhos eu olho pra frente
e o caminho está lá
Rude flor és tu rosinha
Ó flor rude e serena flor da noite
bruta ode ao pecado perdição
que saudades exalas do caminho
que saudades saúda a saudação
ó rosa sensata da manhã
tu que exalas serena compreensão
rosa matinal, flor do pecado
que maldades rosinha tem no coração
flor modesta, flor de tranquilidade
que apalpa a serena exatidão
liberta da dor da liberdade
tu que roubas de mim essa prisão
onde estás teu caminho, vou ao contrário
outro rumo outra rota imensidão
dois caminhos cruzados ao contrário
onde tens teu começo, meu final
onde navegas a barco, voo de avião
onde estás tua verdade minto outra vez
e te quero sim mas digo não
ó flor da madrugada onírica flor
tu que fostes o que és insensatez
o segredo agora é sagrado
e o sagrado é segredo outra vez
onde vejo mil velas num só barco
onde reinam católicos, romaria
onde reina a dor, mora o fraco
onde reina o passado, nostalgia
meu presente pra ti é um futuro
que moldei contigo ao meu lado
com rosas e frutas, em miúdos
ausente do mal e do pecado
meu presente pra ti é um futuro
construído comigo lado a lado
Em tudo há um pedaço de ti
Estás no recanto do ato que já consumado posso então descansar
Ahh nostalgia
Vivo em preto e branco, em tempos passados que outrora estavam presentes
e o passado me perdura nostálgico, vindouros momentos que não voltarão
vivo em preto e branco com todas as cores em mim já ausentes
vivo em preto e branco pois com cores partisses meu coração
e se não for verdade, que enquanto opaco ainda sou mil cores exalas tu
há em mim a saudade que o passado deixou sem ti em mim
de um bar, uma praça uma bola rolando felicidade feliz tão simples assim
mas no preto e no branco juntaram-se as cores do teu vestido azul
e hoje choro sempre ao olhar o céu
que bela agonia deixastes pra mim formosa dama
ao não entrares na igreja de grinalda e vél
pois sempre que choves ouço do céu uma voz que chama
e deixo partir todas as vozes e cores perdido em prantos
pois felizmente pra mim ainda vivo em preto e branco
Sermão
Onde estão todos os santos pra perdoarem meus pecados
hei-me de partir com meus atos errados
no caminho, em buscas das respostas com os olhos fechados
rezando pra um deus que nunca me respondeu
eu chorei tantas vezes e nada aconteceu
estou aqui de pés descalços vestindo a humildade
meu amor já se foi, me falta a liberdade
o senhor me pastoreia nos mares escuros
e o meu coração já vê sombras no horizonte
não acredito em anjos não, eles não me trazem paz
nem mesmo a noite me faz dormir, tenho medo do escuro
e com medo não tenho outra opção a não ser rezar
pra não ter mais que viver sem você
ó roma eterna, dos mártires dos santos
ó roma eterna, acolhe nossos cantos
glória ao alto ao deus de majestade
paz sobre a terra justiça e caridade
Meu coração é um carro em movimento
atropelando os meus instintos mais sinceros
mãe, hoje eu não quero dormir só
posso dormir no seu quarto?
não acredito ainda em verdades sinceras
nem em mentiras
eu só acredito no seu olhar
quando as flores passarem
nada mais vai me importar
já é verão, sonha comigo
vamos juntos rezar pra ser feliz de novo
ó roma eterna, dos mártires , dos santos
ó roma eterna, acolhe nossos cantos
glória ao alto ao deus de majestade
paz sobre a terra justiça e caridade
onde estão as rosas de um tempo tão bonito
hoje repousem sobre pedras de granito
e tudo passa com o vento e a poeira
e a solidão é minha mais nova companheira
e eu me deito sobre o chão que hoje é tão frio
porque você se foi? será que tudo existiu?
eu tenho uma arma de brinquedo,
mas tenho medo de te machucar
eu não brinquei, de fato falei sério
eu tenho uma horta em casa...Mas não tenho nada pra plantar
il sangue di un cuore che ama
Simples a simplicidade que tanto me circulava
triste os ventos agora raros com teu cheiro e gosto
que carregam pétalas dos caminhos onde caminhava
que ao sabor do vento eram sempre marcas do teu rosto
e quanto há de sorriso em teu sorrir?
sabes que foi tu a derrotada por teus olhos
sabes tu que vitimada foi por seus próprios imbróglios
e por isso foi obrigada a ver-se partir
pois minha santa, aconselho-te não minta reaja
se estás aqui ferida é por tua causa e consequência
pois quem se cala consente para que então haja
de novo um novo agir perdedor
pois o peso do fracasso, pesou-me todas as vezes
que ousei derrotar o amor
Escambo
Melhor eu ficar calado
mascando um chiclete amargo
que ouvir de ti tua voz
dizendo que não foi por mal
melhor ficar deitado
num travesseiro duro
que ver de ti um beijo outro homem roubar
e é assim quebrado
meio que torturado
que em meio a tragos de um cigarro que eu nunca fumei
me peguei filosofando e descobrindo
que foi muito amando que acabei partindo
nesse caminho louco que é amar alguém
que tanto faz bem que só podia acabar mal
mas permaneço calado
com o gosto amargo na boca
de um chiclete de mente ao invés do doce do teu beijo
que ficou em outra boca, outro apartamento
em uma foto eternizada os nossos momentos
que jurei pra mim mesmo iriam acabar um dia
mas os dias não passam mais do mesmo jeito
pra cada segundo uma dor no peito
e me desespero a procurar
uma garrafa de água benta batizada
talvez derramar água sanitária
e engolir até meu coração parar de latejar
mas a verdade é essa
o amor que chega rápido se vai com muita pressa
e deixa sempre o gosto de ter sido rápido demais
mas em silêncio fico aqui trancafiado
ouvindo chico buarque tocando no meu rádio
com a televisão ligada em um canal qualquer
pois todo homem sabe que em ironia
a vida ri quando descobre que um dia
todos nós já nos trocamos por uma mulher
Ms e outras consoantes
Meu coração sozinho e cansado
Lara
Não te vejo mais desfilando seus passos no chão
em minha rua já não flui teu cheiro
já me basta então te ver
acho que amei demais
passei horas olhando teu nome na areia
que escrevi com meus dedos tão seus
já me basta te olhar
acho que não sei amar
não me arrisco mais
a olhar para o céu de noite
em tudo vejo teu rosto
feitiço certo, perfeito bruxa do mal
mas não é verdade então?
que o caminho se faz ao caminhar?
e onde está o amor?
num coração que pulsa ou numa alma com dor?
e já é tarde, mas meu sangue ferve
está tão quente e eu aqui tão frio
meu corpo te pede, meu coração vazio
já não consegue deixar te amar
mas está tudo certo você está feliz
mentir por amor
acho que te amei demais
e no fim das contas
nenhuma conta se fez
não somamos um mais um
não chegamos a ser três
mas tudo bem... tanto faz
acho que te amei demais
tudo bem, tanto faz...
já aprendi como se faz
posso errar de novo outra vez
como errei todas as vezes
mas tudo bem tanto faz
acho que já nem sei mais
tudo bem... tanto faz
eu te amei demais
Soneto 5
Quem se desfaz como eu me desfiz perante a ti oh minha santa
sabe que morrer em prantos num quanto vazio é destino certo
sai de mim esse eu que de meus olhos tu arranca
só pra ter em meus olhos teus olhos por perto
mas não me engano. não é por mim que teus olhos me querem
não. minha santa teus olhos esperam por piedade
pois se sente sozinha e esta é a verdade
teus olhos que tanto lhe orgulham são os mesmo que te ferem
e de ti já não sobra nada longe de mim eu sei
mas de mim fica pouco quando a vejo longe irei
ao despertar dos sóis em teus olhos fechados errei
pois teus olhos se fecham tão perto dos meus
e os meus se abrem tão perto dos seus
pois juntos já somos somente um eu
Vocês não prestaram atenção
Dance, dance filho da puta
na sua garganta esse gosto já é falso
é de um sabor já sintetizado
dance filho da puta
pois sua princesa já não mais existe
pois verdade não há na ilusão
e governaram todo o seu ser
dos pés à imaginação
dance filho da puta
ao som de qualquer canção
pois tudo é quase tão real
que qualquer um pode acreditar
que era mesmo tão verdadeiro
que quase dava pra tocar
dance filho da puta
pois enquanto você dança
um lobo te espera
em seu banquete seu cérebro e coração
e enquanto atrai o lobo pra si
se juntam a ti todos os bufões
que vivem em casas com ressonância de vidro
e fazem exames hospitalares
que assistem tv a cabo
a salvo dos lobos em seus lares
somos todos lobos
somos todos tolos
somos o que ninguém na verdade quer ser
mas nós já chegamos até aqui
então que a tv não mude de canal
pois hoje eu quero ser
um ser humano com cabeça de animal
A.I doeu (inteligencia artificial)
Muitas gravatas, cidades de concreto
cinza no arco íris que nunca mais apareceu
muito dinheiro, muita coisa dando certo
penas de uma ave que nunca realmente voou
são muitas toneladas
muitas calculadoras
muito giz de cera e nada pra pintar
são muitas contas, muitos números
algarismos demais pra gente poder pensar
racionalizaram o dinheiro
esquizofrenaram a mentira
nossas crônicas são cada vez mais fictícias
seu couro vale ouro
ouro de tolo
tolo coitado que acreditou em tudo
são muitos tudos
muitas coisas
tantas coisas
eu já nem lembro mais
os nossos porcos estão embriagados
nossos ratos estão engaiolados
nossos jornais tem gosto de pólvora
nossas vidas se morrem e se matam
pra gente poder pagar a conta
pra gente poder se vender
pra gente poder bancar a pompa
pra gente poder ter poder
e nada disso mais importa
nós somos todos iglus
vivendo nesse mundo cinza
com nossas camisas azuis
pra gente não se diferenciar
e comer comida enlatada
pra gente poder achar que é tudo
é quase sempre nosso nada
pra gente quase enxergar
pra gente quase falar
pra gente quase pensar
pra gente quase ser
só pra enfim... a gente quase viver
48
E são nesses dias pluviosos que triste e partido
Números
de mil se fez só um
mil acasos um só caso
de uma noite só
mas com mil por virem
e eu e você
com mil promessas
de um dia sermos três
talvez seja verdade
o que dizem afinal
que no final
todo amor é igual
tudo acaba em fim
quem sabe assim
a gente se encontre
entre mil pessoas
e mil lugares
mil sóis
em nossos novos ares
e ainda sim estamos embaixo de todos
juntos pelo mesmo céu
unidos pelo mesmo chão
separados
pelas fronteiras do coração
mil catástrofes
me guiam ao teus olhos
que massacram meus sentidos mil
te sacio da visão ao paladar
em seus sentidos mais múltiplos e verdadeiros
e somos assim
como houvemos de ser
eu e você
nós dois em nós
vivendo sempre eternizados
em silêncio que corrói a pura alma
eu e você e mais mil verdades
plantadas em um
sempre mais que só dois
Aliás
Mundo de concreto, verdades made in china
falso conteúdo, mentiras de além mar
é a vida que se leva, e dela não se leva nada
diálogos achados em conversas de bar
eu talvez não viva para sempre
mas sou pra sempre enquanto viver
talvez eu ache um motivo
alguma coisa pra esquecer
e dessa selva
teu rosto me salva
me ensina a me cegar
e nessa selva
seu gosto me acha
e me ensina a te amar
é tudo quase nada
e quase nada é sempre tudo que nós temos
mas a verdade mata
não a nada mais que nós não possamos saber
e nessa selva
teu corpo se encaixa
peças de lego,quebra cabeças
dois nós na mesma corda
uma sentença de prisão perpétua
e no meio de tudo você se pergunta
qual é a cor do arco íris
Martin lutero
Tantas coisas já tentei
tantas vidas ja vivi
tantas lutas ja lutei
todas elas eu perdi
tantas palavras eu falei
tantas mentiras pra contar
tantos nomes pra dizer
e somente o seu pra se falar
porque você não vai embora?
porque você ainda mora em mim
porque você não cria raízes
longe, bem longe daqui
tantas noites sozinhas
tantas coisas pra pensar
tantas tentativas em falso
tantas coisas pra falsificar
e o amor é aquele que finge
tão bem que realmente chega a existir
tantas frases bonitas
tantas verdades sinceras
tantas pessoas nessa vida
e em você estão todas elas
porque você não vai embora?
porque você ainda mora em mim?
porque você não cria raízes
longe, bem longe daqui
mas você quando vai
deixa um pedaço em mim
que sou tantos pedaços
muito de ti
não... não quero dizer
que está errada em amar outro alguém
mas tente entender
que eu te amo também
e em meio a tantas coisas
tantas palavras pra dizer
eu só consigo pensar em falar
amo você
As relíquias dos cruzados
Fiz de você o meu espelho
só pra ver em ti como eu vejo você
e fingir acreditar
em tudo isso que inventei
e montei em mil mosaicos
teu nome com pedaços de cristal
que eu sabia que não eram nada mais
que estilhaços de vidro
e vasculhei tua pele
mesmo sem te tocar
e teus olhos me diziam promessas
que tua boca nunca chegou a fazer
coragem nos faltou
quando aprendemos a amar
já era tarde demais
e tivemos que fingir
que era a hora certa
que batendo a sua porta fechada
eu não buscava uma janela aberta
e fingimos tão mal
que cheguei a acreditar
que era tudo de verdade
que eu cheguei a te amar
e escrevi com o batom que roubei de você
um poema tão bonito
que eu nem mesmo pude ler
sozinho
tranquei com seis chaves
as seis letras do teu nome
que eu jurei a mim mesmo
em mentiras
que esqueceria
e com bronze esculpi
tuas formas na minha sala
e desenhei seu rosto num caderno
que queimei com puro incenso
pra guardar todas as cinzas
no meu novo porta jóias
que se chama você
Fomos
Teu sorriso me chamava
como a noite fria chama um café e um cobertor
e eu fui
com teu olhar que me encantava
como uma feiticeira a enganar um enganador
e eu fui
tuas palavras me gritavam
como grita um vendedor de amor
e eu fui
tua pele quente me guiava
como um farol guia um pobre sonhador
e eu fui
mas fui com pressa
tropecei em pedras
caí, ralei o joelho naquele chão
sem farol, sem sorriso
sem semáforo, sem direção
mas eu fui
O exército do quarto rei
De ouro em pó era seu olhar santo
O retorno do carcará
Então domei-te como um cavalo alado
e ao chão me fez retornar
e vontades mil tive de subir
mas, por deus eu não aprendi a voar
e todo o céu e as estrelas
esbanjaram compaixão
com um teu rosto me guiando
consegui sair do chão
e as doces nuvens de saturno
me embalaram em seu dorso
e adormeci em berço d'ouro
em minha boca estava seu gosto
Linhas paralelas
Nesses dias teus olhos tem me guiado simples
simplesmente por um caminho sem fim
nesses dias tua boca tem me dito coisas
coisas simples como dizer sim
então porque você não guia tua boca
por esse rio que desagua na minha
então porque você não pega teus olhos
e me guia até a escuridão
onde o reflexo desses seus cabelos
vem curar a minha solidão
nesses dias tão solitários
você é a solução
uma estrela de brilho raro
um disparo para o coração
não me diga que somos só...
nós somos somente nós dois
não me diga que vai ser pior
te quero agora, antes e depois
então porque você não guia tua boca
por esse rio que desagua na minha
então porque você não pega teus olhos
e me guia até a escuridão
onde de tão escuro eu não sinta tua falta
onde não tenha nada pra fazer
talvez assim eu consiga
não pensar mais em você
que tanto já fez nesses dias
que sempre acabam numa noite estrelada
que é quase sempre tão fria
como um copo de água gelada
e me afogo em cada copo d'água
pensando em teu nome gritar
na esperança que você venha
me salvar de tentar me matar então
por que você não guia tua boca
por esse rio que desagua na minha
então por que você nao pega teus olhos
e me guia até a escuridão
pra gente tentar se encontrar
Primeira do plural
andamos eu e você por caminhos perfeitos
caminhos perfeitos que acabaram em fim
ora, se era pra ser que fosse direito
pois teu caminho ainda acaba em mim
mas você se perde em cada curva
desvios de alta periculosidade
e eu fico sempre dirigindo na chuva
gritando seu nome por toda a cidade
onde mora o teu hálito
que gosto deixou em minha boca
onde estão seus hábitos
de lua cheia, de cigana louca
fizemos um porta retrato
de fotos que não eram nossas
nos escondemos embaixo
de máscaras, caras e bocas
se era pra acabar que acabasse em fim
e não em um começo qualquer
se era pra ser que fosse assim
tão absurdo quanto amar uma mulher
nós conquistamos o mundo
mas perdemos nós dois
podíamos ter tudo
mas deixamos pra depois
nós estávamos lá
com a corda laçada
nós queríamos tudo
e acabamos sem nada
éramos nós
éramos dois
éramos sós
éramos pois
nós não éramos nada
Tão breve pra ser tanto
Triste talvez seja acordar em meu quarto frio
Sementes injustas
Se passei tardes e noites com um caderno
riscando folhas com teu nome
na há mais nada de amor nisso
somos todos felizes sozinhos
se passei sonhos inteiros sonhando contigo
e fiz de ti meu segundo eu
nada há mais de verdade nisso
sozinho eu acredito em mim
e transcrevi tuas gírias no meu dicionário
te enfeitei com pérolas aos meus olhos
nada disso é mais amor
nada sobrou do que antes nem sei sede tua parte ja foi
se eu disse tantas coisas
que não me forçaram a dizer
e dentre todas as palavras
todas eram sempre você
o amor se foi
mas seu nome ficou em um cartório qualquer
ou numa carteira de identidade
se o meu tempo se fingiu dobrar
e caber inteiro nos seus olhos
me desculpe
foi ilusão
nada há de amor aqui
somente um coração
Sozinho
então quase acreditei
que dentre as certezas mil
afagos e sarcasmos que eu trouxe na vida
o teu sorriso quase que sincero
me domaria
como notas musicais
quando paro
no anteparo dos teus braços
quando corro entre mil faróis o tu abraço
é a única luz que me faz guiar
e mesmo que seja incerto
ou talvez incompleto
terei seu olhar por sempre perto
pra que de manhã eu possa te olhar
e se me der medo não há porque
pois de proteção eu tenho você
que quase me ensinou a voar
sonhei contigo mais de que adianta sonhar?
quem muito sonha viaja longe sem sair do lugar
mas ao lado teu hei de sempre estar
mas na verdade, a verdade não há
seja sincera
esqueceu-se de amar
tudo bem acontece
não há por que fingir e sorrir toda hora
dizer que sim sonhando com não
toda nuvem descarrega a chuva
me ensinaste a voar com medo de cair
me partisse em centelhas
cascalhos do que um dia fui
mas foi sincera sua insinceridade
e sou grato a ti por minha solidão
Terra a vista
Talvez meu norte esteja variando
talvez a linha do horizonte, seja mais curva do que eu pensei
talvez o doce gosto do teu beijo esteja passando
já não sei mais do que eu sei
todas as direções
há milhas de distância daqui
são as mesmas opiniões
que me levaram a fingir
que eu era só mais alguém
com uma bússola na mão
perdido na estrada da vida
guiado pelo coração
eu era só mais um alguém qualquer
guiado por um coração
os faróis estavam todos ligados
mais eu me perdi por querer
talvez não seja tão estranho
ver meu leste apontar pro sul
o mundo anda tão errado
que o caminho já é mais de um
dentro de cada carro
de cada para raio
obsessões ambulantes
e marcas de cigarro
nós só...
perdemos a direção
mais ainda há um mundo novo
a se descobrir
A quarta quadra real
Todo mundo quer
que a verdade e a bondade batam a porta
mais elas estão ocupadas, dizendo a gente
que as portas estão fechadas
todo mundo pede
uma porção de terra
uma capitania hereditária
mas as terras estão arrendadas
onde o rei mandava
hoje manda um cidadão qualquer
onde deus mandava
hoje não há lei pra se seguir
mas nós anda estamos aqui
todo mundo sonha em ser
um famoso formoso,
um formoso zé ninguém
que é conhecido
por todos que sonham em ser alguém
todo mundo lembra
das finais de campeonatos nacionais
mas todos se esquecem
da última vez que ouviram falar da paz
onde o mar andava
o homem fez casa e a onda tomou
onde começou tudo
foi por lá que o final começou
onda havia tudo
não há mais nada só o que há por vir
mas nós ainda estamos aqui
ilhas desertas , pessoas feridas
casas sem pessoas, pessoas sem comida
e ainda há mais coisa por vir
mas nós ainda estamos aqui
sem terra sem lei, sem telefone
sem pedra, sem rei, sem político e sem nome
e tudo isso está por vir
mas nós ainda estamos aqui
A tocha de davi
Alcanço o inverno de um país o norte europeu
Eu na cova dos leões
estou morrendo aos poucos
deitado na cama vazia
seu olhar opaco ainda me irrita
magoa a fina casca
que antes eu chamava de mim
se fosse pra acabar sem final
se fosse pra ser assim
melhor que não me tivesse escolhido
fostes embora
levando consigo
meu sangue
manchou minha camisa de amor
e fingiu que seria eterno
marcasse tua marca em meu peito
e fingiu ser sincera
mas a tinta secou
o papel se molhou
a promessa envelheceu
e você não cumpriu
eu quero ver você girar
com o gatilho na mão
e dançar em cima
do sangue em meu coração
aberto, ainda sangrando
mas sinceramente
apesar de você
eu hei de existir
e nada há de curar a dor é verdade
e nada a de matar o amor, eu concordo
mas nada há de ti mais em mim
a não ser a dor de um dia eu ter te amado
e dito tantas vezes
jurado perante as estrelas
que seus olhos seriam os faróis a me guiar
em meio a escuridão
apesar de nós dois
sempre terei a mim
e sempre será
pra sempre assim
Alienígenas desceram tocando beatles e rolling stones
todos eles estavam calados
as caras eram pálidas
e manchadas de suor
todos eles estavam errados
as mãos armadas
sempre prontas para o pior
todos estavam olhando
as estrelas caindo do céu
as mães abraçando as crianças
as duas torres de babel
todos eles estavam sangrando
dos olhos aos pés
todos eles estavam olhando
os dois reis, os dois Moisés
e a vida passava
escrita em metal barato
as pessoas com seus nomes
em marcas de sapato
e todos olhavam todos
com perfeita inibição
desligados da tomada
defeitos sem solução
uns carregavam uniformes
e outros andavam pelados
uns carregavam informes
e outros estavam lado a lado
estavam todos pensando
em como chegaram até ali
não tinha ninguém andando
mas as sombras estavam a os perseguir
a vida estava acabando
estava perto do final
quando desceram eles de suas naves vermelhas
levando sangue e caos
com suas roupas de acetileno
com poli etileno nas mãos
não entendiam como o veneno
brotava de todos nós irmãos
e o sangue maculava nossa alma
e eles sabiam disso
e eles perderam a calma
esse era nosso compromisso
estavam todos atirando
no acetileno escorrendo
o céu caiu três vezes
e os dedos tocaram o doce do chão
amargo apesar de doce
era sempre essa a solução
e em casas verdes floridas
as naves começaram a morar
e todos os polímeros cromados
começaram a nos assombrar
o que é isso?
a vida?
não sei o que fazer
o mundo
perdido
entre mim e você
e todas as setas
apontavam para o mesmo lugar
um esquadro e formas geométricas
nos guiavam até lá
os tijolos eram vermelhos naquela casa escondida
estava escrito em lixo radioativo
aqui morava a vida
não vou ficar sozinho
a solidão dói demais
machuca a alma é o caminho
de quem procura não ter paz
mas se você
quiser me dizer
que é tudo vivo
que é tudo verdade
feche a boca
suas mentiras não vão me iludir
talvez iludam por concessão
se eu te deixar mentir
talvez acalme meu coração
suas promessas
vão entrar
na minha mente
e me levar
pra um novo mundo
que vai cair
vai ruir vai ser só chão
e quando tudo acabar
só eu e mim vamos restar
vagando eternamente
em uma estrada
sem final feliz
o corpo macula a alma
a alma dói no corpo
a pressa mata a calma
o muito já engole o pouco
você é igual a todo mundo
e todo mundo não é nada
quando o nada já é tudo
o tudo não importa
nem tudo é tão perfeito
nada é tão ruim
pra tudo da-se um jeito
nada acaba
nada vive então
eles viveram cem anos
com uma arma nas mãos
para mim viver cem dias
é tortura e opressão
balas de borracha
só machucam o ego
atirem, me matem me façam viver
sozinho
Soneto das 3 estações
É em veredas e brasa causa eterna
é em silêncio perene quase inferno
é do corpo inteiro cabeça e perna
é ano inteiro outono e inverno
silêncio calado momento preciso
teu corpo armado missil arma qualquer
doença venérea, vicio,completa perda de juízo
é meu eu perdido em corpo de mulher
ainda que verões, causas e consequencias
batizassem seu nome,
em ti a minha essência
o amor é eterno, inverossímil, bomba relógio
é o pensamento mais insano
insanamente óbvio
Soneto da marca da amada
Que teimem em falar a verdade
e se esconder no esquecimento
que sejam fiéis a lealdade
e que façam perdurar os momentos
e nm mil sóis duvidarão de ti
quando em mim sua marca aparecer
e mesmo ausente estaremos aqui
você pra mim e eu pra você
e tudo é inverno
o mal e a raiz
que sejam eternos
pois te olhar é ser constante movimento
é desviar a eternidade em dois segredos
eu e você eternamente em pensamento
Gran finale
Então é isso,
o sol se vai,
a noite vêm
são treze estrelas
tentando iluminar alguém
mas quem somos nós pra desligarmos o sol?
somente olhe pra frente
o amanhã não importa mais
é essa dor que machuca a gente
fique parado não olhe pra trás
e o teu pulso...sangrando
é a prova
de que está tudo dando errado
e o teu ego inflado
cheio de si dentro de você
nós somos jovens mas não temos tanto tempo
temos tempo pra poder crescer
e depois de crescidos
vamos pensar em tudo que a gente
queria ser
nossos sonhos, nossos pulsos
nossos egos inflados
são a prova que ofuturo
é o presente dando errado
e nosso corpo
supera a nossa mente
a cada dia que passa
o sol fica mais quente
e o seu pulso não para de sangrar
a marca da navalha
no braço direito a mostrar
que foi tudo um grande engano
ta tudo dando certo e ninguém percebeu
encobriu-se
as mentes de errado
e o que era certo desapareceu
você queria fazer seus amigos sonharem
depois de morrer
eles vão sonhar com você
você queria fazer o mundo pensar
corou seus próprios pulsos jogou a vida pro ar
e todos pensaram
por um minuto qualquer
quanto vale a vida
quem realmente sabe o que quer?
e o chão do seu quarto
manchado de vermelho
é a prova de verdade
que todos têm medo dos espelhos
mas....
não adianta
você se foi
e levou sua mensagem com você
e o amanhã virá
seus pais vão chorar
o tempo vai passar
e ninguém vai te esperar
as portas vão fechar
e você ausente disso tudo
sempre estará
mas a dor...
vai te dizer
que era melhor você ter sido
um pouco mais você
andado devagar
pensado um pouco menos
não atravessar a rua
no sinal vermelho
talvez assim
o mundo fizesse mais sentido pra você
Sempre tão pequeno perante os olhos da amada
O dia amanheceu tão eu
sem muito dela
e a porta está aberta
pra eu saber bem
por onde você entrou
e por onde saiu
me esquecendo e te levando
se esquecendo e me levando ao mesmo tempo
tempo que se esvai
tão sabiamente
o sábio se vai e complica a mente
eu não sei mais viver
sem você aqui
onde está o agora
se o ontem ja se foi contigo
só sobrou o pouco
de mim que ainda quer viver
mesmo que sozinho
na praia tem areias
com teu nome escrito
desenhado no caderno
tatuei você em mim
só pra ter...
mesmo que pra sempre
e o tempo não se vai
nada sobra disso tudo
nada sobrará
nada me restou
o apartamento que é pequeno
cabe só minha presença
o meu corpo é tua essência
e o tempo teima em não passar
não sou escravo de ninguém
mas teimo em trabalhar
sem nada cobrar
pra tua lembrança
eu sempre guardar
dias vão
as noites se vêm
eu penso em você
quando penso em alguém
noites sem estrelas
estrelas sem luar
hoje eu acordei sozinho
do meu lado você não está
hoje...
eu acordei sozinho
Aleluia!
Todos são herdeiros
Quando tudo acaba, começa tudo de novo
Se não era pra ser eterno
Era uma mentira bem contada
Aquele quarto pequeno
Batman também se apaixonou
Eu que não queria ver a lua do meu lado
Quando Hamlet tocar legião
Suas verdades são um peso de papel na minha porta
feridas ao vento
mentiras lavadas
pedaços de tudo
jogados ao nada
você mente muito bem
tão bem que já mentiu
pra si mesma
dizendo que é verdade tudo que você falou
e o passado te cobra
um futuro presente
o teu presente ausente
bem longe daqui
dizem que tudo que acontece
tem hora e lugar
há lugar pra tudo
e o nada onde está?
eu estou aqui contigo
uma pedra na linha do horizonte
sou o paralelo da sua linha do equador
pra onde vão todas as coisas
quando saem daqui?
o céu e o inferno
não fazem questão de existir
tudo é limpo...e tão sujo
tão verdadeiramente falso
que da pena acreditar
nosso sangue jorra nágua
onde vive o oceano
a miséria causa a fome
que se junta a vontade de comer
e depois nos saciamos
com pão e circo
o circo passa o pão estraga
e nós ficamos aqui
eu e você
você e eu
nós dois e um mar de gente
um mar de gente e nós dois
nos afogando em alto mar